Heron em Automatic Theater se refere a autômatos
construídos para uso nos templos como proporcionando um efeito de assombro nos
devotos, que serviam segundo Lynn Thorndike ao objetivo de caracterizar falsos
milagres, como trompetes que tocavam sozinhos, portas de templos que se abriam
automaticamente quando se acendia uma fogueira cerimonial no altar através de
polias que ficam ocultas[1] e
estátuas articuladas que pareciam beber.[2] A obra
sobre os Autômatos de Heron foi traduzida para o latim no século XVI
tornando-se bastante popular.[3] Papus
chamava de “fazedores de milagres” (thaumatourgoi)
os mecânicos que se ocupavam com a fabricação de autômatos pneumáticos.[4] Derek
Collins observa que para os gregos não se tratava de mera simbologia, pois quando
alimentavam tais estátuas eles acreditavam que elas eram capazes fisicamente de
comer como seres dotados de vida: “essas culturas vivem a realidade de que
as estátuas são animadas”.[5] Claude Levi Strauss defende a ação mágica ou
ritual ainda que envolvendo algum artifício mantido oculto do público, como um
mecanismo legítimo e que deve ser interpretado dentro do contexto de todo o
ritual que envolve a ação mágica: “Esta
retificação de perspectivas tradicionais permite eliminar o falso, problema
levantado para alguns pelo recurso normal à fraude e ao embuste durante as
operações mágicas. Porque se o sistema de magia se baseia inteiramente na
crença de que o homem pode intervir do determinismo natural, completando-o ou
modificando-o seu curso, quase não tem importância que o faça um pouco mais ou
um pouco menos: a fraude é consubstancial à magia e, propriamente falando, o
feiticeiro não trapaceia nunca. Entre sua teoria e sua prática, a diferença não
é de natureza, mas de degrau”.[6] Stanley Tambiah mostra que toda a ação ritual dos magos envolve a exploração de
metáforas e analogias descritas por meio de uma linguagem de símbolos
reconhecidos dentro de uma determinada cultura e que não se limitam a uma única
interpretação mas que carregam elementos de ambiguidades o que permite sua
perpetuação em novos ambientes e contextos.[7] Para Stanley Tambiah as ações rituais verbais e não verbais interpenetram-se.
[1]READERS'S DIGEST. Da
idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro,
2010, p.92
[2]THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I,
Columbia University Press, 1923, p.190
[3]READERS'S DIGEST. Da
idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro,
2010, p.86
[4]HOOYKAAS, R. A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.81
[5]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 40
[6]STRAUSS, Claude Lévi. O
pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 254
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