quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A magia na Grécia

 

Heron em Automatic Theater se refere a autômatos construídos para uso nos templos como proporcionando um efeito de assombro nos devotos, que serviam segundo Lynn Thorndike ao objetivo de caracterizar falsos milagres, como trompetes que tocavam sozinhos, portas de templos que se abriam automaticamente quando se acendia uma fogueira cerimonial no altar através de polias que ficam ocultas[1] e estátuas articuladas que pareciam beber.[2] A obra sobre os Autômatos de Heron foi traduzida para o latim no século XVI tornando-se bastante popular.[3] Papus chamava de “fazedores de milagres” (thaumatourgoi) os mecânicos que se ocupavam com a fabricação de autômatos pneumáticos.[4] Derek Collins observa que para os gregos não se tratava de mera simbologia, pois quando alimentavam tais estátuas eles acreditavam que elas eram capazes fisicamente de comer como seres dotados de vida: “essas culturas vivem a realidade de que as estátuas são animadas”.[5] Claude Levi Strauss defende a ação mágica ou ritual ainda que envolvendo algum artifício mantido oculto do público, como um mecanismo legítimo e que deve ser interpretado dentro do contexto de todo o ritual que envolve a ação mágica: “Esta retificação de perspectivas tradicionais permite eliminar o falso, problema levantado para alguns pelo recurso normal à fraude e ao embuste durante as operações mágicas. Porque se o sistema de magia se baseia inteiramente na crença de que o homem pode intervir do determinismo natural, completando-o ou modificando-o seu curso, quase não tem importância que o faça um pouco mais ou um pouco menos: a fraude é consubstancial à magia e, propriamente falando, o feiticeiro não trapaceia nunca. Entre sua teoria e sua prática, a diferença não é de natureza, mas de degrau”.[6] Stanley Tambiah mostra que toda a ação ritual dos magos envolve a exploração de metáforas e analogias descritas por meio de uma linguagem de símbolos reconhecidos dentro de uma determinada cultura e que não se limitam a uma única interpretação mas que carregam elementos de ambiguidades o que permite sua perpetuação em novos ambientes e contextos.[7] Para Stanley Tambiah as ações rituais verbais e não verbais interpenetram-se.



[1]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.92

[2]THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.190

[3]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.86

[4]HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.81

[5]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 40

[6]STRAUSS, Claude Lévi. O pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 254

[7]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 46



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