segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A cultura iorubá

 

Entre os séculos XII e XV desenvolveu-se a cidade de Ifé, próxima Lagos na Nigéria onde houve grande desenvolvimento de técnicas de fundição[1]. Os yorubás eram um povo do sudoeste da Nigéria portador da civilização Ifé, com origem do Alto Egito e Sudão e que se fixou no golfo da Guiné por volta do século VII.[2] Em Jebel Barkal, uma pequena montanha no Sudão do Norte viveu o povo Kush que formaram uma cultura desenvolvida e deixaram cerca de 300 pirâmides intactas construídas há cerca de 3 mil anos. Foram também encontradas tumbas, templos e câmaras funerárias completas, com pinturas e desenhos que a Unesco descreve como "obras-primas de um gênio criativo que mostram os valores artísticos, sociais, políticos e religiosos de uma comunidade de mais de 2 mil anos".[3] Esculturas de metal de Ifé que datam o século XV revelam um alto grau de sofisticação da arte africana[4]. Froebeniius em sua obra “E a África falou” relata o assombro dos navegantes portugueses ao entrarem em contato com a riqueza da cultura ioruba: estradas cuidadosamente traçadas, ricos campos cultivados, pessoas vestidas de magníficas roupas feitas de tecidos de fabricação própria: “os relatórios de navegantes dos séculos XV a XVII não deixam margem à dúvida alguma de que a África que se estendia ao sul do Saara se achava então num estado altamente civilizado”.[5] Froebenius atribui as cabeças de Ifé, por ele descobertas em 1910, a data do século V a.c e que procedem da arte egípcia menfita do período persa, porém Shinnie não está convencido desta relação direta: “há agora quantidade de provas que demonstram que  muitas partes da África possuíam sociedades altamente desenvolvidas, bem adaptadas aos ambientes, desde tempos antigos, e de que, embora na África, como em outras partes do mundo, nenhuma sociedade fica isolada e um tráfego de duas mãos de ideias e técnicas acontece, não sendo absolutamente necessário presumir que tudo na África veio do Egito”[6]. Cheikh Anta Diop em Antériorité des civilizations nègres sustenta a tese de que as civilizações negras são anteriores à civilização egípcia o que se comprova pelo paralelismo da língua senegalesa Wolof e o egípcio antigo e pela presença de arte rupestre representando seres humanos com cabeças de animais antecipando o zoomorfismo observado no Egito[7]. Em 1897 os britânicos invadiram e saquearam o palácio de Obá na cidade de Benin na Nigéria recolhendo diversas obras de arte, bronzes e joias hoje guardadas nos museus europeus[8]. Estátuas do Palácio de Abomey, a capital histórica do atual Benim foram roubadas em 1892 por tropas francesas do general Alfred Amédée Dodds. O governo de Benin reclama a devolução de 4.500 e 6.000 objetos que pertencem ao país, incluindo tronos, portas de madeira gravada e cetros reais.[9] Nos séculos XVII e XVIII os artesãos muçulmanos atingiram um grau sofisticado de ourivesaria, particularmente com os ashanti da Guiné, que dominavam a técnica de cera perdida.[10]



[1] WILLETT, Frank. Ifé, Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.279

[2]Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.313

[3]http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40484880

[4]MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.455

[5]WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 194

[6]HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.460

[7]CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.108

[8]MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.554; ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.722; CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.109

[9]https://g1.globo.com/mundo/noticia/africa-exige-da-europa-restituicao-de-tesouros-roubados.ghtml

[10]OGOT, Bet Hwell. História geral da África, v.V, África do século XVI ao XVIII. Brasília:Unesco, 2010. p.513



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