O Egito detinha a
poucas reservas de minério de ferro. O arqueólogo Howard Carter descobridor da
tumba de Tutankhamon[1] encontrou amuletos de ferro, quando em geral seria esperar encontrar feitos de
hematita[2]: “percorramos todos os museus egípcios da Europa
e o Museu do Cairo, com suas 50 mil peças de todas as espécies e só
encontraremos ao todo 12 de ferro, inclusive as seis do jazigo de Tutancamon”.
Para Daniela Comelli o ferro fundido do punhal com uma empunhadura de ouro encontrado
no túmulo é datado de 1322 a.c.[3] O ferro tem
origem em um meteorito que possivelmente caiu na região costeira do
Mediterrâneo, uma vez que possui 11% de níquel enquanto que o ferro encontrado
na Terra não excede 4% de níquel. Além disso, a quantidade de cobalto na arma
do faraó indica a existência um metal espacial.[4] O
explorador Robert Peary em 1894 ao observar como os esquimós da Groelândia
caçavam notou que eles extraíam lascas de um meteorito do tipo siderita
(meteoritos compostos quase totalmente de ferro) para fixar tais lascas junto a
morsas para fazer facas.[5] Charles
Marston aponta a descoberta de um machado de ferro em Ur por Leonard Wooley que
poderia ter sido forjado a partir de um meteorito, no entanto, a lâmina do
punhal era absolutamente comparável ao ferro forjado comum, o que constaria o
domínio do ferro a 3000 a.c. Fornos para fabricação de pão foram encontrados em
Ur datados de 2000 a.c.[6] No
entanto Charles Marston aponta a preferência dos egípcios pelo cobre, que vinha
do Sinai[7], ao invés
do ferro por respeito às tradições[8]. Em
Timna, próximo ao Sinai foram encontradas minas de cobre da época de 18° a 20°
dinastias (1550 – 1070 a.c.)[9] Entre os
egípcios as poucas e valiosas armas fabricadas com ferro eram conhecidas como
“punhais do ceu” devido à sua origem dos meteoritos.[10] Pedaços
de ferro foram encontrados entre os blocos de pedra da pirâmide de Gizé revelam
traços de níquel em quantidade insuficiente para serem ferro meteorítico. Mircea
Eliade argumenta que a origem celeste do ferro usado para confecção de tais
objetos responde pelo caráter secreto das confrarias de ferreiros, o que pode
justificar as poucas evidências do uso de ferro no Egito.[11] Um certo
número de meteoritos está associada a deusas em especial deusas da fertilidade
como o meteorito Pessinonte na Frígia venerado como imagem de Cibele.[12] O termo
sumério para ferro significa metal celeste.[13] John
White mostra que o atraso no domínio da tecnologia do ferro fez com que o
exército egípcio perdesse as principais batalhas contra etíopes, assírios e
persas.[14] Flinders
Petrie observa como vestígio de peças de ferro no Egito: i) um fragmento de
lâmina de ferro encontrado na pirâmide Quéops (IV Dinastia 2500 a.c), ii)
pedaço de ferro encontrado entre machados de cobre em Abidos da VI Dinastia
2200 a.c, iii) uma pequena barra de ferro encontrada na pirâmide de Dashur, iv)
uma espada de lâmina curva conhecida como cimiatarra encontrada debaixo da base
da estátua de Ramsés II. [15] Forbes
argumenta que todas estes exemplos estão sob suspeição.[16] Howard
Vyse reporta descoberta de uma chapa de ferro de 30 por 10 centímetros presa no
cimento numa tumba encontrada em Gizé e hoje no Museu Britânico[17].
O arqueólogo Otto Neubert avalia que a origem destas peças de ferro encontradas na tumba de Tutankhamon pode ser proveniente dos hititas na Ásia Menor.[18] Walter Ceram aponta que por volta de 1600 a.c. os hititas tiveram certo monopólio na manufatura do ferro[19]. O ferro é uma descoberta mais recente do que o cobre porque seu ponto de fusão é mais elevado, o que requer um maior aquecimento. Se o termo “amutum” nos textos encontrados em Kultepe foi corretamente interpretado como significando ferro então podemos afirmar que o ferro na primitiva história hitita era mais valioso que o ouro. Há cartas de faraós do Egito aos reis hititas solicitando o envio de ferro, principalmente para ornamentos[20]. A primeira evidência da fundição de ferro no Egito data do século VI a.c. na cidade de Naucratis.[21] O ferro seria introduzido tardiamente no Egito por ferreiros gregos por volta do século VI a.c. no porto de Náucratis [22]. Arnold Toynbee mostra que no Egito o ferro superou o cobre como ferramenta somente no século VII a.c., de modo que as tarefas de corte em pedra eram feitas com cobre[23]
[1]EYDOUX, Henri Paul. Á
procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 34
[2]CERAM, Walter. Deuses,
túmulos e sábios, Rio de Janeiro:Bib. Exército, 1971, p.179; BAINES, John;
MALEK, Jaromir. O mundo egípcio:deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro,
Edições del Prado, 1997, p.101
[3]FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 46
[4]COMELLI, Daniela et al. The meteoritic origin of Tutankhamun's iron
dagger blade, Meteoritics & Planetary Science, 2016
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/maps.12664/abstract
[5]READERS'S DIGEST. Da
idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro,
2010, p.20, ELIADE, Mircea. Ferreiros e alquimistas, Rio de Janeiro: Zahar,1979,
p.19
[6]GOWLETT, John.
Arqueologia das primeiras culturas. Barcelona:Folio, 2008, p.178
[7]CROUZET, Maurice.
História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações
imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 86
[8]MARSTON, Charles. A
Bíblia disse a verdade, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 187
[9]BAINES, John; MALEK,
Jaromir. O mundo egípcio:deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro, Edições del
Prado, 1997, p.19
[10]KELLER, Werner. E a
Bíblia tinha razão, Barcelona:Econ Verlag, 2008, p.10
[11]ALVAREZ, Lopez. O
enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.74
[12]ELIADE,
Mircea. Ferreiros e alquimistas, Rio de Janeiro: Zahar,1979, p.18
[13]SINGER, Charles; HLOMYARD, E.
A history of technology, v.I. Oxford Clarendon Press, 1958, p.594
[14]WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 144
[15]ALVAREZ, Lopez. O enigma
das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.73
[16]SINGER, Charles; HOLMYARD, E.
A history of technology, v.I. Oxford Clarendon Press, 1958, p.597
[17]MALKOWSKI, Edward. O Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 96
[18]NEUBERT, Otto. O vale
dos reis, Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.265, 249; COON, Carleton. A história
do homem. Belo Horizonte:Itatiaia, 1960, p.255
[19]BRONOWSKI, J. A
escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.131
[20]CERAM, Walter. O
segredo dos hititas, Belo Horizonte:Itatiaia, 1961, p. 206
[21]STROUHAL, Eugen. A vida
no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 152
[22]JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 183
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