terça-feira, 21 de julho de 2020

Sêneca e a escravidão


A escravatura aumentava o tempo livre dos gregos que tinham em grande conta a ociosidade.[1] Cícero e Sêneca exaltam o ócio como superior ao trabalho. Para Sêneca em Brevitate Vitae: soli omnium otiosi sunt qui sapientiae vacant. - De todos, apenas aqueles que têm tempo para a sabedoria têm tempo livre[2]. Sêneca aponta que a maioria das invenções de sua época foram trabalhos de escravos, o povo simples, os únicos interessados em tais assuntos:[3]foi certamente a razão que inventou tudo isto, mas não a verdadeira razão. Foi o homem, mas não o homem sábio que tudo descobriu; da mesma forma que inventaram os barcos, nos quais se atravessa rios e mares, barcos aparelhados com velas para aprisionar a força dos ventos, com leme na popa para mudar a rota em uma ou outra direção”. Sêneca mostra uma posição tolerante com a escravidão: “A alma reta, boa, grande pode encontrar-se tanto em um cavaleiro romano ou em um liberto como em um escravo. O caminho da virtude a ninguém se acha vedado, está aberto a todos, livres, libertos, escravos, reis, desterrados. Labora em erro quem crê que a escravidão penetra todo o homem: a melhor parte ache-se livre dela: os corpos estão sujeitos e consignados ao amo, mas a alma permanece dona do seu direito próprio, não pode dar-se em escravidão [...] És um escravo ? Mas talvez de alma livre. Por acaso [a escravidão] isso lhe causará dano ? Monstra-me então alguém que não seja um escravo: um da luxúria, outro da avareza, outro da ambição, todos da esperança, todos do temor. Não existe nenhuma escravidão mais vergonhosa do que a voluntária”.[4]


[1] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 222
[2] CRUZ, Murillo. A norma do novo: fundamentos do sistema de patentes na modernidade: filosogia, história e semiótica. Rio de Janeiro, 1996. Tese Doutorado, Coppe/UFRJ, Engenharia de Produção, p.40
[3] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.195; NISBET, Robert. História da ideia do progresso. Brasília:UNB, 1980, p. 56
[4] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 162


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