Os árabes reunindo conhecimento da tradição de diferentes povos como China, Oriente Médio e o mundo helenístico serão responsáveis pela compilação dos segredos da alquima e desenvolvimentos de novas técnicas. Muitas obras alquímicas usadas em Alexandria serão traduzidas pelos árabes diretamente do persa.[1] Esta tarefa não se limita as obras de alquimia, ao longo de quinze anos os árabes traduziram muitos dos livros gregos disponíveis da ciência e filosofia. O complexo de al-Azhar no Cairo tornou-se um importante centro de ensino do mundo árabe no século IX para o qual os eruditos do império abássida vinham para estudar com os mestres mais famosos.[2] As mais notáveis obras de alquimia dos árabes foram escritas por Jabir[3] ibn Hayyan na segunda metade do século VIII com experiências relativas a separação do antimônio e arsênico de seus respectivos sulfetos, a fundição do aço, tingimento de tecidos e couro, destilação do ácido acético partindo do vinagre e preparação de muitas substâncias como o ácido sulfúrico e nítrico.[4] A destilação, o meio para separar líquidos através de diferenças em seus pontos de ebulição, foi inventada por volta do ano 800 pelo alquimista Jabir ibn Hayyan, que além de descobrir os ácidos sulfúrico, clorídrico e nítrico também inventou o alambique. No final do século VIII Jabir Ibn Hayyan destacou-se como alquimista[5] e suas obras que chegaram até nós sob seu nome são em sua maioria posteriores de um ou dois séculos.[6]Trevor Williams mostra que o ácido sulfúrico não teve nenhuma importância industrial até o século XVII.[7] Jabir obtinha o ácido nítrico pela destilação do salitre com vitriolo. O produto assim destilado recebia o nome de agua forte, sendo, após o vinagre, o primeiro ácido isolado[8]. Jabir sabia que a adição de ácido nítrico permitia dissolver ouro de grandes quantodades de prata. Em A arca do saber, atribuída a Jabir conta a preparação de ácido acético a partir do vinagre e a preparação do ácido nítrico[9]. Acredita-se que ele tenha descoberto o aqua regia, uma mistura de ácido clorídrico e ácido nítrico, que tem a capacidade de dissolver ouro. Seus livros influenciaram fortemente os alquimistas europeus medievais onde os tratados de Jabir sobre alquimia foram traduzidos para o latim e tornaram-se textos padrão para os alquimistas europeus. Entre os trabalhos de Jabir incluem-se o Kitab al-Kimya (Livro da Composição da Alquimia), traduzido por Robert of Chester (1144) e o Kitab al-Sabien (Livro dos Setenta), traduzido Gerard de Cremona (antes de 1187). Para Jabir os seis metais conhecidos se distinguiam pela diferente proporção na combinação de enxofre e do mercúrio, sendo a mais perfeita proporção a do ouro. Para Jabir as várias espécies metálicas são determinadas pelas diferenças de proporções e grau de pureza com que o enxofre e mercúrio de combinam[10]. Somente depois de quantificada a proporção em que as quatro naturezas participam da constituição do metal é que se pode proceder á sua transmutação. Suas obras revelam a fabricação de óxido de arsênico, nitrato de prata, tetracloreto de ouro, ácidos sulfúrico e nítrico bem como o uso do sódio e potássio. Para Jonathan Lyons: “a chegada ao mundo latino da alquimia árabe estimulou séculos de pesquisa sobre as propriedades químicas e os procedimentos experimentais de uma forma muito parecida com a maneira pela qual a visão geocêntrica do mundo contida nos estudos árabes do Almagesto ajudou a ampliar as fronteiras da astronomia matemática”. [11]
Os melhores tratados alquímicos da época foram traduções de textos árabes como a Summa Perfectionis Magisterii[12]do século XIV escrita originalmente por Geber.[13] O autor assume que todos os metais são compostos de uma mistura de corpúsculos de enxofre e mercúrio e fornece uma descrição detalhada das propriedades metálicas. Esse livro foi elogiado por Petrus Bonus devido a sua clareza se comparado a outros alquimistas, onde por exemplo encontramos uma receira para se fazer ácido sulfúrico. [14]Geber destaca que a alquimia aparece no Ocidente na metade do século XII quando Robert de Ketton traduz para o latim De Compositione alchemiae de Morenius a partir do original em árabe. Ao descrever um de seus fornos Geber conclui: “se alguém puder inventar algo mais engenhoso, não permita que nossa invenção possa retardar tas desenvolvimentos”.[15] Geber é o nome latinizado de Jabir ibn Hayyan.
[1] GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.87
[2] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.90
[3] BERNARDONI, Andrea. Jabir Ibn Hayyan. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.450
[4] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.167; SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.356; CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos, São Paulo:Moderna, 1994, p. 64
[5] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2001, p. 128
[6] PERROY, Edouard. A idade média, tomo III, Primeiro Volume, História Geral das Civillizações, São Paulo:Difusão Europeia, 1958, p. 199
[7] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.387
[8] TATON, René. A ciência moderna: o Renascimento, tomo II, v.I, São Paulo:Difusão, 1960, p. 132
[9] GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.94
[10] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.142
[11] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.143
[13] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.189
[14] GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.143
[15] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.743
Alquimistas Al-Jabir/ Geber, Arnoldo Villanova, Rhazis
e Hermes. Norton’s Ordinali, Museu Britânico,1477
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