A doutrina
de Platão exposta em Crátilo é profundamente influenciada por Heráclito de
Éfeso que viveu por volta de 500 a.c, segundo o qual (fragmento n° 91) não se
pode entrar no mesmo rio duas vezes[1]. Crátilo
aprofunda a afirmação de Heráclito ao dizer que nem mesmo uma só vez podemos entrar
no rio, tão rápida e contínua é a mudança. Isso torna impossível que as
palavras possam ser usadas para definir um conceito instável, dada a
instabilidade inerente de todas as coisas. De fenômenos sempre mutáveis e das
sensações que os aprendem não pode surgir um conhecimento estável e válido, a ciência
é uma impossibilidade para Crátilo[2]. O mundo
observável está, portanto, em constante mudança, há um conceito de
impermanência nas coisas, uma identidade entre os contrários[3], Trata-se
de um mundo que é visto como inconstante, mutável, imperfeito e, em última
análise, incognoscível.[4] Para
Heráclito, sob influência do dualismo do zoroastrismo[5], o mundo
é um fluxo perpétuo de acontecimentos, de mudança das coisas nos seus
contrários: “de todas as coisas o Um e do
Um todas as coisas [...] o contrário é convergente e dos divergentes nasce a
mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia”[6]. Existe
o dia porque existe a noite, assim como inverno e verão, o bem e o mal, assim
como a tensão de uma corda cria as flutuações proporcionais à frequência para
produção da harmonia da música, assim o alternar dos opostos cria a vida e lhe
confere significado.[7] Para
Heráclito o mundo é um perpétuo fluxo (panta
rhei)[8]. Platão
entende que Heráclito tinha razão no que se refere ao mundo material como algo
imperfeito, que não consegue manter a identidade das coisas, mudando sem
cessar, passando de um estado a ouro, contrário ou oposto.[9] O mundo
se desenvolve pela constante interação dos opostos, dia/noite, saúde/doença,
guerra/paz.[10]
Rodolfo Mondolfo observa que a conclusão negativa de Crátilo quanto as
possibilidades da ciência como critério de verdade é mais radical que a de
Sócrates e Platão para os quais a sabedoria pode nos levar ao critério de
verdade pela observação das essências universais.[11]
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Heráclito
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