Lynn White argumenta que os aperfeiçoamentos no estribo, desconhecido pelos romanos[1], e usados em animais foi o responsável pelo feudalismo[2], ao tornar o cavalo um elemento fundamental nos transportes e na guerra ao conseguir maior estabilidade do cavaleiro[3]. Os povos ávaros originários das estepes da Ásia Central destacavam-se com sua cavalaria hábil no combate com uso de estribos no século VI[4]. Carroll Quigley levanta a possibilidade dos hunos no século IV já usarem estribos.[5] A cavalaria romana não usava ferraduras, embora Aristófanes tenha mencionado cavalos de pés de cobre (calkokroton ippo)[6]. Plínio o Velho no século I iniciou um livro sobre o uso da lança pela cavalaria[7]. Marc Bloch observa que o estribo possivelmente de origem euroasiática aparece em documentos do Ocidente apenas após o século IX.[8] Jean Flori corrige esta informação de Marc Bloch e assegura que o estribo generalizou-se na Europa desde o século VIII, no entanto será no século XII com o novo método de combate por choque frontal com a lança em posição horizontal fixa, transformada em verdadeiro “projétil vivo” capaz de derrubar fileiras inteiras de adversários, que a cavalaria torna-se mais efetiva.[9] Uma ilustração do Livro dos Salmos da abadia de Saint Gall na Suíça no século IX mostra uso de estribos pela cavalaria do hebreu Joab.[10] A tapeçaria Bayeux de 70 metros de comprimento que narra os eventos da batalha de Hastings em 1066 apresenta figuras de estribos pela cavalaria francesa.[11] Sawyer e Hilton criticam o determinismo tecnológico de Lynn White como “uma aventura enganadora para antiquadas banalidades, apoiando-os com uma cadeia de obscuros e duvidosos deduções de escassas evidências sobre o progresso da tecnologia”. Sawyer e Hilton argumentam que na Inglaterra a batalha de Hastings no século XI continuava sendo realizada a pé de modo que o estribo pouco impacto exercia e não há razões para acreditar que fosse diferente no resto da Europa pois as evidências arqueológicas trazidas por White não foram consideradas convincentes de que o estribo e seu uso em cavalaria montada nas guerras estivesse difundido por toda a Europa no século VIII pois tapeçaria Bayeux mostra apenas dois ou três cavaleiros montados. [12]
[1] FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 120; CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.511
[2] JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 74
[3] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.36; McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.179
[4] ROBERTO, Umberto. Os povos da estepe e o espaço mediterrâneo: hunos, ávaros e búlgaros, In. ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.79
[5] QUIGLEY, Carroll. A evolução das civilizações, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p.253
[6] CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.79
[7] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.131
[8] BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.177
[9] FLORI, Jean. Cavalaria. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 213
[10] CLARK, Kenneth. Civilização, São Paulo:Martins Fontes, 1980, p.39
[11] Camp, Sprague de. O homem e a energia, v.I, Rio de Janeiro:Ao livro Técnico, 1968, p.35; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 272
[12] SAWYER, P.; HILTON, R. Review: Technical Determinism: The Stirrup and the Plough; Past and present, No. 24 (Apr., 1963), p. 90-100 https://www.jstor.org/stable/pdf/649846.pdf?seq=1
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