domingo, 5 de julho de 2020

Colônia de exploração v. colônia de povoamento

Caio Prado Jr., em Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pela primeira vez em 1942 defende a tese de que enquanto houveram colônias de povoamento nos EUA (o nome ficou consagrado depois do trabalho clássico de Paul Leroy Beaulieu em De la colonisation chez les peuples modernes publicado em 1874) , no Brasil tivemos colônias de exploração para explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu:[1]a colonização não se orienta no sentido de constituir uma base econômica sólida e orgânica, isto é, a exploração racional e coerente dos recursos do território para a satisfação das necessidades materiais da população que nela habita”. Roberto Simonsen já apontara o interesse mercantil de Portugal quando renomeou o país de Terra de Santa Cruz para Brasil. O católico João de Barros já denunciava os interesses mercantilistas: “por artes diabólicas se mudava o nome de Santa Cruz, tão pio e devoto, para o de um pau para tingir tecidos”. Segundo o jesuíta do século XVI: “vergonha que a cupidez do homem, por preocupações do tráfico, substituísse o lenho da cruz, tinto com o real sangue de Cristo, pelo de outra madeira, semelhante somente na cor”.[2] Para Roberto Simonsen de uma mera colônia de exploração o Brasil foi se transfigurando em uma colônia mista de povoamento e exploração mais tarde[3]. Celso Furtado faz o contraste da colonização dos Brasil colônia voltada para mercados de exportação e reduzido mercado interno e os Estados Unidos onde predominava uma economia compatível com a pequena propriedade familiar e onde o padrão médio de consumo era mais uniforme e elevado: “ao contrário do que ocorria nas colônias de grandes plantações, em que parte substancial dos gastos de consumo estava concentrada numa reduzida classe de proprietários e se satisfazia com importações, [enquanto que] nas colônias do Norte dos Estados Unidos os gastos de consumo se distribuíam pelo conjunto da população, sendo relativamente grande o mercado de objetos de uso comum”.[4]Para Celso Furtado o desenvolvimento dos Estados Unidos entre fins do século XVIII e a primeira metade do século XIX se deu em grande parte pelo desenvolvimento da economia europeia muito mis do que por alguma política protecionista interna norte americana: “o protecionismo surgiu nos Estados Unidos, como sistema geral de política econômica, em etapa bem avançada do século XIX, quando as bases de sua economia já haviam se consolidado”.
[1]JÚNIOR, caio Prado. Formação do Brasil Contemporâneo, Rio de Janeiro:Brasiliense, 1986, p. 30
[2] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.64
[3] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.32
[4]ARAÚJO, Tarcísio, VIANNA; Salvador Werneck; MACAMBIRA, Júnior. 50 anos de Formação Econômica do Brasil: ensaios sobre a obra clássica de Celso Furtado, Rio de Janeiro:IPEA, 2009, p. 54, 96, 130

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