A Revista Kosmos em matéria de 1906 faz um retrato irônico da arte da retórica: “vede-o austero, severo, sério, braço esticado no ardor do improviso, olhos cerrados pela contenção do espírito, afirmando sua dedicação a um partido ao qual talvez tenha de trair amanhã, ou afirmando o seu nobre desejo de morrer pela Pátria, quando talvez o seu único e sincero desejo seja o de repetir a galantina de macuco que foi servida à pouco .... A oratória política de sobremesa é hoje uma instituição indestrutível”. Para Frederick Eby o sistema jesuítico era “o elemento ultraconservador na evolução da educação moderna”.[1]Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil afirma que “no vício do bacharelismo ostenta-se também nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor próprio, superior às contingências”.[2] Para Sérgio Buarque de Holanda o bacharel era a “expressão dos ideais educativos da sociedade patriarcal, com o culto dos valores retóricos”[3]. O fato da elite dirigente ser formada nas faculdades de Direito moldou uma cultura voltada “quase exclusivamente para a retórica e a eloquência, no qual contavam mais as palavras do que os fatos e onde não havia muito lugar para as ciências exatas e para a pesquisa científica”.[4] Segundo Sérgio Buarque, “as nossas academias diplomam todos os anos centenas de novos bacharéis, que só excepcionalmente farão uso, na vida prática, dos ensinamentos recebidos durante o curso”. O mesmo tema do bacharelismo é analisado por Alberto Venancio Filho em Das Arcadas ao Bacharelismo que faz a análise histórica dos cursos jurídicos no Brasil e que ressalta o papel da criação dos cursos jurídicos com a Independência, como símbolo da autonomia nacional e por Sérgio Adorno em Os Aprendizes do Poder que analisa a formação cultural e profissional dos bacharéis de direito em São Paulo entre os anos de 1827 a 1883, momento de consolidação do liberalismo econômico. O engenheiro Paula Souza em discurso junto a Escola Politécnica no Rio de Janeiro: “o nosso mal é justamente termos a maioria dos nossos homens aptos para dissertar todos os assuntos, infelizmente não conhecendo nenhuma matéria a fundo”.[5] Paulo Sérgio Pinheiro mostra que o bacharelismo é complementar ao coronelismo como articulação principal dos controles sociaise políticos exercidos pelas classes dominantes.[6]
[1] EBY, Frederick. História da educação moderna. Porto Alegre:Globo, 1976, p.97
[2] ARASAWA, Cláudio Hiro. Engenharia e poder, construtores de uma nova ordem em São Paulo, São Paulo:Alameda, 2008, p.105
[3] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.16
[4] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.375
[5] ARASAWA, Cláudio Hiro. Engenharia e poder, construtores de uma nova ordem em São apaúlo, São Paulo:Alameda, 2008
[6] PINHEIRO, Paulo Sérgio. Classes médias urbanas: formação, natureza, intervenção na vida política. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano, v.III, tomo 2. Sociedade e Instituições (1889-1930), São Paulo:DIFEL, 1985, p. 34
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