O Tratado de Methuen[1], assinado em 1703 entre Portugal e Inglaterra abria o mercado português e de suas colônias aos produtos ingleses em troca de algumas vantagens dos vinhos portugueses no mercado inglês, tornando Portugal um entreposto dos produtos ingleses, o que levou à ruína as poucas experiências de manufaturas locais no Brasil. O Tratado assinado pelo embaixador britânico em Portugal John Methuen foi criticado pelos whigs no Parlamento britânico. A compra dos vinhos franceses havia sido suspensa com a guerra contra França e Espanha no século XVII. Adam Smith em a Riqueza das Naçõesdenuncia o Tratado como prejudicial aos interesses ingleses: “se os vinhos da França são melhores e mais baratos seria mais vantajoso para a Grã Bretanha comprar o vinho que pudesse da França do que o de Portugal”. Mesmo em 1836 Palmerston ainda se via obrigado a defender o Tratado junto ao parlamento inglês.[2]Charles Boxer, por sua vez, destaca que o Tratado assinado em 1703 ocorre após o fracasso das negociações com os franceses em 1701 com o rei Sol Luis XIV, o que levou aos ataques de corsários franceses, em represália ao acordo assinado com Inglaterra, realizados no Rio de Janeiro em 1710 por Jean François Duclerc e no ano seguinte por Duguay Trouin.[3]O diplomata Luis da Cunha critica o acordo: “a riqueza de um país consiste em multiplicar as fábricas para que os naturais pudessem ter emprego e lucrassem tudo o que nelas ganhavam os estrangeiros, que importava ouco que os panos que se faziam em Portugal fossem menos bins que os da Inglaterra, se todo se vestissem do mesmo e o dinheiro ficasse no país [...] que a muita saída dos vinhos er lucro de poucas pessoas principais, mas que o aumento do número de fábricas era remédio de inúmeros povos”. [4]
Para Nelson Werneck Sodré com o tratado Portugal tornava-se vassalo da Inglaterra[5]. Para Stnaley Stein e Barbara Stein “Methuem, em realidade, encerrou Portugal e sua colônia brasileira em uma teia de imperialismo econômico centralizado na Inglaterra”.[6]Nelson Werneck Sodré destaca que o Tratado se instala em uma época em que já não havia um ambiente propício para o desenvolvimento da indústria em Portugal de modo que mesmo se o tratado não houvesse sido firmado, de qualquer forma, dificilmente Portugal teria desenvolvido sua indústria: “ao contrário do que pareceu a muitos estudiosos e comentadores do Tratado de Methuen esse acordo comercial não teve reflexos tão poderosos quanto se pensa no desenvolvimento da indústria portuguesa de panos” .[7]Para Gilberto Freyre pelo tratado “Portugal reduziu-se a uma quase colônia britânica”.[8]Para Celso Furtado o Acordo ”significou para Portugal renunciar a todo o desenvolvimento manufatureiro e implicou transferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no Brasil”.[9] Para Sérgio Buarque de Holanda: “Portugal não tirou da imensa riqueza que lhe proporcionamos as vantagens que a Inglaterra, por exemplo, com a mesma política mercantilista conseguiu obter. Ao contrário disso, o Tratado de Methuen, de 1703, impediu até mesmo o surto da industrialização portuguesa e canalizou os capitais retirados do Brasil para a Inglaterra. As importações suntuárias da Corte, por outro lado, derramaram o ouro restante por outros países da Europa, particularmente a França”.[10]
[1] SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1979, p.157
[2] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 20; SODRE, Nelson Werneck, as razões da independência, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1978, p.11, 19
[3] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 156
[4]ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 129
[5] COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 48
[6] STEIN, Stanley; STEIN, Barbara. A herança colonial da América Latina, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1977, p.25
[7] SODRE, Nelson Werneck, as razões da independência, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1978, p.29
[8] FREYRE, Gilberto. Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.84
[9] FURTADO, Celos. Formação Econômica do Brasil, Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 34.
[10] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira: A época colonial, administração, economia, sociedade, tomo I, volume 2, São Paulo:Difusão Editorial, 1982,p.351
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