No século XVI Anchieta lamenta nos nativos a ”falta de engenhos” e sua predisposição a festas e prazeres.[1]Gabriel Soares por sua vez destaca a sagacidade dos índios do século XVI “engenhosos para tomarem quanto lhes ensinam os brancos [...] para carpinteiros de machado, serradores, oleiros, carreiros e para todos os ofícios de engenho de açúcar tem grande destino” exceto aqueles exercícios que exigiam de raciocínio e abstração.[2]Ao descrever os Tupinambás os descreve como “homens de grandes forças e de muito trabalho: são muito belicosos, em sua maneira esforçados e para muito, ainda que atraiçoados: são muito amigos de novidades e demasiadamente luxuriosos, e grandes caçadores e pescadores e amigos de lavouras”.[3]Joseph Hoffner observa que em diversos idiomas indígenas o termo correspondente a “trabalhar” é formado por uma raiz idêntica ao verbo “morrer”.[4]Léry salienta entre os indígenas seu grande vigor físico abatendo árvores enormes a golpes de machado e transportando-os aos navios franceses sobre o dorso nu.[5]Manoel Albuquerque observa que o fornecimento de machados e outros instrumentos de metal, até então desconhecidos dos índios, produziu modificações nas relações técnicas de produção da economia tribal.[6]Durante a segunda missa rezada no Brasil Pedro Vaz de Caminha destaca o espírito de imitação dos índios: “E quando veio ao Evangelho, que erguemos todos de pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim até acabado; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que certifico a Vossa Alteza nos fez muita devoção”.[7]O médico Andrew Grant em sua History of Brazil publicada em 1809, com base nos depoimentos de Hans Staden, Jean de Léry e Raynal, retrata o perfil dos indígenas na época do descobrimento: “Tais eram os brasileiros, no momento da descoberta de sua terra pelos portugueses: um povo tratável e engenhoso, pronto a aprender qualquer conhecimento que estes estivessem dispostos a introduzir em seu meio. Não tinham, é verdade, muita disposição para o trabalho, porque suas exigências eram poucas e facilmente satisfeitas. Enquanto foram bem tratados, não ofereceram objeção á tomada de suas terras pelos estrangeiros”.[8]Segundo Gândavo: “São estes índios muito desumanos e cruéis, não se movem a nenhuma piedade: vivem como brutos animais sem ordem nem concerto de homens, são muito desonestos e dados a sensualidade e entregam-se aos vícios como se neles não houvera razão de humanos”.[9]
[1] FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, São Paulo:Global Ed., 2006, p. 49
[2] FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, São Paulo:Global Ed., 2006, p. 214, 229; SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil, Rio de Janeiro : Typographia Universal de Laemmert, 1851, p.321
[3] SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil, Rio de Janeiro : Typographia Universal de Laemmert, 1851, p.307 http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01720400#page/1/mode/1up
[4] HOFFNER, Joseph. Colonialismo e evangelho, São Paulo:USP, 1973, p.173
[5] FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala, São Paulo:Global Ed., 2006, p. 229
[6][6] ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 50
[7] Holanda, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, São Paulo: Difusão Editorial, 1960, p. 50
[8] HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: o processo da emancipação, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1962, p. 49
[9] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.35
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