terça-feira, 2 de junho de 2020

Roma quadrata

Entre os etruscos a agrimensura estava vinculada à religião de modo que a cada novo povoado deveria ser orientado segundo os quatro pontos cardeais e seu perímetro retangular demarcado por um sacerdote que escava um sulco com um arado de bronze[1]. Tais tradições foram herdadas pelos romanos que mantinham uma faixa em torno do sulco sagrado, chamada de pomerium livre de qualquer edificação e onde deveriam ser realizadas os atos importantes da vida religiosa e política[2]. A cidade de Roma ocupava a plataforma da colina do Palatino que era chamada de “Roma quadrada” – Roma quadrata devido ao formato aproximadamente retangular de seu perímetro[3] era cercada por uma muralha. Na lenda sobre a origem de Roma tal com transmitida por Tácito, Rômulo em 753 a.c. traçou um sulco ao redor do Palatino demarcando o local sagrado para fundação da cidade, onde os sacerdotes poderiam praticar o augúrio e a leitura de vaticínios essencial na tomada de decisões, mas o local foi profanado por Remo[4]. Em 1907 foram encontrados no Germal, cume ocidental do Palatino, objetos datados do século VIII a.c.[5]Em 1985 Andrea Carandini e Albert Ammerman localizaram o fosso que outrora demarcava a parte externa da parede mais antiga deste limite[6]. Seguindo antiga tradição etrusca os romanos construíam suas cidades de modo a harmonizá-las com a ordem cósmica com o traçado de suas ruas principais: a cardo ou “dobradiça” que corria de norte para sul, e a decumannus que corria de leste para oeste[7] tendo como referência a trajetória do sol.[8] No ponto de intercessão localizava-se o capitólio ou “cabeça” da urbe, local sagrado com um templo dedicado a Júpiter, Juno e Minerva[9]. O escritor latino do século I a.c. Varrão afirma que o termo “templum é o nome que se dá a um lugar demarcado e limitado por determinadas fórmulas com o fim de fazer augúrios e receber auspícios[10].
[1] CLARK, Peter. A evolução das cidades, História em Revista, Rio de Janeiro:Time Life, 1993, p.44
[2] AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine, Roma e seu império, História Geral das Civilizações, São Paulo:1974, p. 113
[3] SANTOS, Yolanda Lhullier. Convite à história, São Paulo:Logos, 1966, v. I, p. 211; ONCKEN, Guilhermo. História Universal – História de Grécia e Roma, Francisco Alves:Rio de Janeiro, v.IV, p.605
[4] DEARY, Terry. Terríveis romanos. São Paulo:Melhoramentos, 2002, p. 13
[5] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 28
[6] Time Life. Roma: ecos da glória imperial, Rio de Janeiro:Abril, 1998, p. 15
[7] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 229; FUNARI, Pedro. Grécia e Roma, São Paulo:Contexto, 2004, p.110
[8] MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William. Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo Milênio, 2009, p. 12
[9] CARREIRA, Eduardo. O pincel invisível do pintor: notas sobre o simbolismo iniciático nas artes medievais. In: RIBEIRO, Maria Eurydice. A vida na idade média, Brasília:UNB, 1997, p. 78
[10] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.74

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...