Monges copistas

Os monges medievais se dedicavam no scriptorium à cópia de manuscritos. Tais cópias é que permitiram que muitas obras da Antiguidade como textos de Virgílio, Horácio, Ovídio ou Estácio chegassem aos dias de hoje[1]. Robert Lacey os chama por esta razão de estar criando a “Arca de Noé cultural”.[2] Nesse processo era comum os autores não fazerem a devida referência quando citando outros trabalhos mais antigos. Isidoro de Sevilha em vários trechos de Etimologias não menciona suas fontes.[3] O monge Cassiodoro no século VI publica Institutiones em que mostra a arte do copista de manuscritos nos monastérios. Um defensor obstinado do perfeccionismo na escrita Cassiodoro publica De ortografia em que apresenta as regras de ortografia. Lionel Casson mostra que as bibliotecas dos mosteiros convertem de um enfoque voltado apenas para atender as demandas de leitura dos monges para converte-las gradualmente em bibliotecas de pesquisa intensificando as atividades do scriptoria e o empréstimo entre bibliotecas para expansão do acervo.[4] Em 1170 um monge da Normandia relata: “Um mosteiro sem biblioteca [sine armário] é como um castelo sem arsenal [sine armamentario]. A nossa biblioteca é o nosso arsenal. É por isso que disparamos as frases da lei Divina como setas aguçadas para atacar o inimigo”.[5]

[1] ZINK, Michel. Literatura(s) In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 94

[2] LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio, Rio de Janeiro: Campus,1999, p.97

[3] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.183

[4] CASSON, Lionel. Bibliotecas no mundo antigo, São Paulo:Vestígio, 2018, p. 164

[5] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.446