quinta-feira, 11 de junho de 2020

Rei Hiram de Tiro

Tubalcaim é citado no Gênesis como “mestre de toda a obra de cobre e ferro” (Genesis 4:22). Hiram é apontado como artífice em bronze de grande habilidade, talento e inteligência e foi apresentado ao rei Salomão para executar todos os seus trabalhos (1 Reis 7:14) e apontado como chefe dos artesãos (2 Crônicas 2:13) o que sugere a existência de uma comunidade de artesãos, que exerciam sua atividade com destaque a ponto se deslocarem a outros países para oferecer seus serviços. Edward Burns aponta que o fato do rei Salomão ter de importar artesãos de Tiro para construção do Templo revela que a cultura hebraica não possuía grande desenvolvimento de tais técnicas[1]. Segundo Reis 1:7-13 Hiran era filho de uma mulher viúva, da tribo de Neftali, e seu pai era de Tiro. Já o Livro II Crônicas informa que a mãe de Hiram era uma das filhas de Dã em referência a cidade que se localizava ao norte de Israel, próximo da cidade fenícia de Tiro, de modo que é possível que a mãe de Hiram tivesse nascido na cidade de Dã e pertencesse à tribo de Naftali. Menandro de Éfeso utilizou os registros fenícios e escreveu uma história de Tiro, hoje perdida, em que trata do rei Hiram e que é citada em alguns fragmento por Flávio Josefo em seu livro Contra Apion[2]em o dedica-se a contestar as calúnias de Apion, escritor alexandrino de raça egípcia e contemporâneo de Tibério. Segundo Josefo: “Segundo estes registros que o templo foi construído pelo rei Salomão em Jerusalém, cento e quarenta e três anos e oito meses antes dos tiranos Cartago terem construído o seu templo; e em seus anais a construção de nosso templo é relacionado; porque Hirom, rei de Tiro, era amigo de Salomão nosso rei, e essa amizade lhe foi transmitida de seus antepassados. Ele foi ambicioso em contribuir para o esplendor deste edifício de Salomão, e fez dele um presente de cento e vinte talentos de ouro. Ele também cortou o máximo da excelente madeira daquela montanha chamada Libanus, e enviou a ele por adornar o teto. Salomão também não apenas fez muitos outros presentes, mas deu-lhe uma país da Galiléia, também chamado Chabulon”. Ezion Geber era o centro da indústria de cobre dos fenícios[3]chamada de “Pittsburgh da Palestina” por Nelson Glueck[4], e as minas de Wadi Timma produziam o metal e utensílios do culto do templo em Jerusalém (1 Reis 7:15)[5]embora haja controvérsias se estas minas estavam ativas ao tempo de Salomão[6]. Salomão menciona um trono de marfim revestido de ouro puro (1 Reis 10:18)[7]e a construção de peças de bronze em moldes de barro (1 Reis 7:46).[8]Os fenícios por volta de 1200 a.c. obtinham o estanho, componente básico do bronze, das minas nas ilhas Cassitérides, hoje Scilly / Schilley[9], junto à Cornualha, do qual possuíam monopólio garantido pelo controle da passagem do estreito de Gibraltar no Mediterrâneo.[10]No aramaico, que era a língua dos fenícios "terra' é "birr', em árabe é "bâr'. "Tânac' quer dizer "estanho'. Então "bir-i-tanic' quer dizer "terra do estanho”. Segundo o Manuscrito Cooke de 1410 Salomão tinha oitenta mil maçons em sua obra, e o filho do rei de Tiro era o seu mestre maçom, no entanto o termo se refere a artífices e não membros de qualquer seita esotérica. Segundo o maçom Leadbeater grupos nômades de pedreiros denominados Artífices Dionisianos haviam se instalado na Fenícia por volta de cinquenta anos antes da construção do Templo de Salomão, e com isso se desenvolveram hábeis artífices na região, os quais o rei Hiram pode ceder alguns destes artífices, no entanto, não há qualquer documento histórico que sustente a relação de Hiram com grupos esotéricos maçons ou mesmo que tais grupos existissem naquela época. José nos fala em seu livro de Antologias que na sua época os reis Salomão e de Tiro mantinham intercâmbio conforme cartas encontradas nos arquivos em Tiro[11]. Os fenícios de Tiro haviam fundado um estabelecimento na costa meridional da Espanha em Gadir hoje Cádiz. Os principais estabelecimentos foram Anadaluzia, Granada, Tartessa, Málaga, Hispális (Sevilha) e as colunas de Hércules.[12]Em 1958 na colina de Carambolo perto de Sevilha foi encontrado um tesouro de joias de ouro que teria sido oferecido pelos fenícios aos reis de Tartessos (a cidade de Tarsis na Bíblia, Isaías 23:14).[13] No Talmud a dignificação do trabalho aparece com frequência: “grande é o trabalho porque é honra aos artesãos” (Nedarim, 49, b)[14].
[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.121
[2] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 218
[3] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 129
[4] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 108
[5] KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão, Barcelona:Econ Verlag, 2008, p.53
[7] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.121
[8] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.175
[9] CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.33; HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 44
[10] CALOGERAS, Pandiá. Formação Histórica do Brasil. São Paulo:Cia Eduitora Nacional, 1938, p. 5 http://www.brasiliana.com.br/obras/formacao-historica-do-brasil
[11]LEADBEATER, C. Pequena história da maçonaria, Rio de Janeiro: Pensamento, 1968, p. 94
[12] CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.39
[13] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 94
[14] BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.137

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