quarta-feira, 10 de junho de 2020

Previsão de eclipses em Roma

A máquina de Anticítera / Antikythera datada de 150 a.C ou 87 a.C mostra um sofisticado sistema de engrenagens para calcular as posições astronômicas do Sol, da Lua e dos cinco planetas então conhecidos. O mecanismo foi descoberto em 1901 ao ser resgatada uma galera romana de 50 a.c. no mar próximo à Creta e descrito por Derek de Solla Price em artigo publicado na Natural History de março de 1962 percebeu que o maior pedaço do dispositivo possuía um total de 27 engrenagens em bronze: “aparentemente, ela era, de fato, uma máquina de calcular que conseguia deduzir e mostrar o movimento do Sol, da Lua e talvez dos planetas”.[1] Uma das engrenagens possuía 235 dentes o que corresponde a 235 ciclos lunares. Os gregos sabiam que em 19 anos solares temos 254 ciclos lunares o que explica uma segunda engrenagem de 127 dentes. Pesquisas realizadas em 2000 mostraram a presença de uma terceira engrenagem de 223 dentes o que corresponde aos ciclos lunares de Saros conhecido desde os Babilônios e que marcava a ocorrência de eclipses solares e lunares. Tales de Mileto conseguira prever o eclipse solar de 28 de maio de 585 a.c.[2] uma façanha histórica que rompia com as previsões de adivinhos, o que fez propor uma linha investigativa mais ambiciosa: “Se aqui impera uma ordem, por que não em toda a natureza ? Não existirá porventura um princípio ou arché, uma fonte de força que dê origem a todos os fenômenos e aparências que constituem o universo ? [3]. Segundo Diógenes Laércio, Xenófanes admirava Tales por ter predito eclipses solares.[4] Jean Vernant e William Bynum referem-se a esta previsão de Tales como uma lenda, uma vez que não tinha condições de prever eclipses.[5] Os reis da Pérsia Ciro e da Lídia Creso encerraram a guerra após o eclipse tão impressionados com o fenômeno.[6] Tales era comerciante e pode viajar ao Egito onde aprendeu matemática e astronomia caldaica.[7] As tabelas de eclipses e outros fenômenos celestes dos sacerdotes da Babilônia, entretanto, antecedem algum séculos da época de Tales.[8] Tales e Anaxágoras expõem a tese de que a lua é iluminada pelo Sol[9], tese também defendida por Macrobius no século IV.[10] Segundo Cícero: "Arquimedes havia descoberto uma forma de representar com precisão através de um único dispositivo os vários movimentos dos cinco planetas com suas taxas de velocidade únicas garantindo que o mesmo eclipse mostrado no aparelho aconteça de fato" o que sugere que teria sido Arquimedes o inventor deste mecanismo. Um segundo mecanismo de previsão de eclipses baseado em engrenagens data de 520 d.c. e foi encontrado entre os árabes[11] O consul romano Gallus Suplicius, descrito por Cícero como um astrônomo ardoroso e paciente, na batalha de Pydnaa na Macedônia em 168 a.c. conseguiu tranquilizar os soldados romanos ao explicar a natureza de um eclipse enquanto os inimigos permaneciam terrificados com o acontecimento.[12] Seneca em Quaestiones naturales escrito por volta de 63 d.c. profetiza que “haverá um dia que o home descobrirá as órbitas dos cometas e daraá a razão de suas trajetórias serem tão diferentes das dos demais planetas”.[13]
[1] CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 107; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 167
[2] HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 142
[3] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.266
[4] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 65
[5] VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego, Rio de Janeiro:Difel, 2002, p. 130; BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 19
[6] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 181, 295
[7] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 294
[8] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 48
[9] TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p.22
[10] MOURÃO, Rogério Freitas. Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro,Nova Fronteira, 1987, p. 496
[12] MOURÃO, Rogério Freitas. Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro,Nova Fronteira, 1987, p. 763
[13] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 176

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