quarta-feira, 10 de junho de 2020

Astrologia em Roma

Lúcio Firmano foi um matemático romano que Cicero descreve como tendo conhecimentos em astronomia dos caldeus calculou a fundação de Roma em 9 de abril quando teria ocorrido um eclipse, antes, portanto, do tradicional 21 de abril, data do festival da Parília, que os clássicos consideram como o dia da fundação da cidade. A presença da astrologia na cultura romana no século I a.C é evidenciada pelo tratado De divinatione, de Cícero. Na obra Cícero critica os astrólogos por produzem mapas astrológicos que não levam em conta o nascimento e pôr do sol em tempos diferentes para cada cidade. Plínio em História Natural também reconhece a influência dos astros na vida terrestre, no entanto aponta que “As estrelas [...] não estão designadas a cada um de nós, como se acredita vulgarmente, nem são brilhantes para os ricos, menores para os pobres, escuras para os desafortunados, nem reluzem segundo a sorte de cada qual, já que não nascem e morrem com a pessoa correspondente, nem quando declinam significa que alguém esteja se extinguindo”. Para George Sarton “a astrologia grega foi o fruto do racionalismo grego”.[1] Os astrólogos gregos mais voltados para os cálculos matemáticos eram chamados mathematikoi enquanto que os que cuidavam das previsões eram os horoscopoi. Durante a República romana (509 a.C. – 27 a.C.) os mathematici detinham poder e impopularidade mas acabaram banidos de toda a Itália em 139 a.c. por ser considerado um saber estrangeiro[2]Posteriormente, os saberes orientais acabaram incorporados tanto à cultura estoica romana como aos interesses políticos dos imperadores. O poeta romano Marcus Manilius em sua obra Astronomica escrita por volta de 20 d.c discute a relação entre o saber astrológico e a filosofia estóica, numa associação com o poder político de sua época. Na perspectiva do estoicismo a astrologia encontrava seu espaço como chave explicativa de um universo ordenado, onde suas partes se relacionam de forma harmônica, conferindo unidade ao cosmo. Otávio Augusto cunhou moedas com seu signo de nascimento. Imperadores como Septímio Severo e Aureliano assoriaram-se a imagem do Sol Invictus. Segundo Barton: “Não foi coincidência o fato de que o momento de ascensão da astrologia em Roma tenha se dado exatamente quando a antiga república oligárquica cedeu espaço à monarquia; a astrologia ocupou um papel político preponderante neste processo, o de estar em conexão com o monarca”.[3]
[1] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 173
[2] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1989, p. 30
[3] FERRONI, Angelica Paulillo. Cosmologia e astrologia na obra Astronomica de Marcus Manilus, PUC-SP, São Paulo, 2007. http://livros01.livrosgratis.com.br/cp029955.pdf

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