quarta-feira, 10 de junho de 2020

Estoicismo

O estoicismo é uma doutrina moral fundada por Zenão (335-264 a.c.) no período helenístico e que defendia uma rigidez de princípios morais baseada numa ética que busca a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino. Considetrada por George Sarton como “a mais elevada doutrina ética do mundo antigo[1] o estoicismo tinha como objetivo a harmonia da alma do indivíduo com o universo. Segundo Diógenes Laerte: “a virtude do homem feliz e uma vida tranquila consistem em serem todas as ações baseadas no princípio da harmonia entre seu próprio espírito e a vontade daquele que dirige o universo”.[2]Guilherme Oncken destaca o comportamento ético dos estoicos e sua vocação para cultivar o benefício da comunidade: “para os estoicos a conduta mais satisfatória e mais justa era baseada na harmonia com a natureza, harmonia essa com a qual as boas ações produzem satisfação própria”.[3]O estoicismo é apontado por Fustel Coulanges como emancipador do indivíduo, libertando-o das regras rigorosas da legião municipal baseada no culto dos ancestrais: “ideias mais elevadas conclamavam os homens formar sociedades mais amplas”.[4] Para os estoicos dentro de uma concepção animista e teleológica as almas individuais são uma parte da alma universal do mundo de modo que todas as coisas tem uma relação umas com as outras. [5] O imperador estoico Marco Aurélio na sua obra Meditações destaca os traços de uma individualidade com origem nos gregos.[6] A máxima estoica era a de viver em harmonia com a natureza. Julio Capitolino descreve o período em que Marco Aurélio foi imperador como uma época em que “Todos os homens são irmãos, cada um por si mesmo é cidadão no mundo [;..] Durante seu reinado o povo gozou de tanta liberdade como nos tempos da República, mantinha, em todos os assuntos, uma extraordinária moderação para afastar os homens do mal e animá-los na prática do bem, premiando-os abundantemente tratando-os com indulgência, dentro da severidade das leis”. [7] Apesar disso Mario Giordani lembra que sob o reinado de Marco Aurélio não foi revogada as leis que perseguiam os cristãos mantendo-a “talvez com uma dose maior de inflexibilidade desdenhosa”.[8] Os estoicos divinizaram a natureza na medida em que defendiam a presença de um espirito – pneuma, a “alma do mundo”, que permearia o mundo natural, e que penetraria todos os corpos e preencheria todos os espaços, como força dinamizadora do cosmos[9], antecipando o conceito de “éter” que seria retomado no século XVII com Descartes, Boyle e Newton ou o “fluido magnético” de Mesmer condutor de uma “simpatia universal” entre os corpos.[10] Charles Singer aponta a filosofia romana do estoicismo e o apreço pela retórica, a aceitação resignada do destino regido por forças dos astros, como as razões para o desprezo dos romanos pelas questões científicas.[11]. George Sarton também aponta eu os estoicos dedicaram pouca atenção á ciência e favoreceram a adivinhação (manteia) e a astrologia. [12]G. Lloyd destaca que embora possa se encontrar no estoicismo alguns dos conceitos modernos da física posterior como o de campo de força, os estoicos adotavam uma abordagem puramente filosófica sem o recurso a recursos matemáticos e não relacionado com a prova experimental.[13]Paulo Abrantes, contudo, propõe que os estoicos foram uma influência importante no desenvolvimento da ciência do século XVII na medida em que unificavam a física, a lógica e a moral sob o mesmo logos e eliminavam a distinção entre mundos sub e supra lanar fazendo a pneuma se estender por todo o cosmo.[14]
[1] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 168
[2] WINTON, R; GARNSEY, Peter. Teoria política. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 72
[3] ONCKEN, Guilhermo. História Universal – História de Grécia e Roma, Francisco Alves:Rio de Janeiro, v.IV, p.547
[4] COULANGES, Fustel. A cidade antiga, São Paulo: Hemus, 1976, p.292
[5] HOOYKAAS, R.. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna. Brasília:UNB, 1988, p.24
[6] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.8
[7] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 70
[8] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 338
[9] ABRANTES, Paulo. Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.46
[10] ABRANTES, Paulo. Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.50, 126
[11] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.7, 82
[12] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 168
[13] LLOYD, G. Ciência e matemática. In: In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 318

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