O conceito de homem mediano, remete a conceitos utilizados em estatística e desenvolvidos por Jacques Quételet em sua publicação de 1835 denominada de "Sur l'homme et le developpement de ses facultés, essai d'une physique sociale"[1] em que aplica a análise matemática no comportamento humano sob o ponto de vista da sociologia.[2]Quételet estimou com sucesso a extensão da fuga ao recrutamento no exército francês comparando a distribuição provável da altura dos homens comparando-a com a distribuição efetiva das alturas encontradas em 100 mil jovens franceses que tinham respondido à chamada para o recrutamento, calculando desta forma que cerca de 200 homens haviam escapado ao recrutamento fingindo medir menos do que a altura mínima: “triste condição a da espécie humana ! podemos dizer de antemão quantos mancharão as suas mãos com o sangue de seus semelhantes, quantos serão falsários, quantos envenenadores, quase do mesmo modo como podemos prever o número de nascimentos e mortes”.[3] Quételet apresentou sua concepção do homem médio (l´homme moyen), modelo padrão para o comportamento humano, como o valor central das medidas de características humanas que são agrupadas de acordo com a curva normal.[4] Suas pretensões eram a de utilizar a distribuição normal para esclarecer a natureza das pessoas e da sociedade o que levaria às leis que descreveriam o comportamento humano e assim conseguir prever de que modo as forças sociais transformariam as características da sociedade. Na sua concepção o homem médio estaria sujeito à variação no tempo e em diferentes culturas. O impacto direto das teorias de Quételet sobre as ciências sociais, contudo, foi pouco expressivo. Os trabalhos em estatística de Quételet foram aplicados nas ciências naturais, como por exemplo, em estudos de dados biométricos por Francis Galton[5]ao redescobrir as impressões digitais, criando o primeiro sistema de identificação pessoal e nos estudos do movimento browniano em física estatística por Albert Einstein.[6]
[1] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, vol. IV A ciência nos séculos XIX e XX, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.74
[2] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.333
[3] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.604
[4] BELLOS, Alex. Alex no país dos números. São Paulo:Cia das Letras, 2011, p.387
[5] SALGADO-NETO, Geraldo; SALGADO, Aquiléa. Sir Francis Galton e os extremos superiores da curva normal. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 45, n. 1, p. 223-239, jan. 2011. https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2011v45n1p223
[6] MLODINOW, Leonard. O andar do bêbado, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 200
Nenhum comentário:
Postar um comentário