Historiadores da nova história (nouvelle histoire) como Jacques Le Goff, Joahan Huizinga, Marc Bloch, Georges Duby e Fernand Braudel questionaram a perspectiva da idade média como idade das trevas traçada pelos iluministas do século XVIII[1]e destituída de qualquer avanço técnico, ou seja, para estes historiadores há uma continuidade do período medieval e renascimento ao invés de uma ruptura. Rousseau define a idade média como o período em que “a Europa, inundada de bárbaros e subjugada por ignorantes, perdeu ao mesmo tempo suas ciências, suas artes e o instrumento suniversal tant de umas quanto de outras, isto é, a língua harmoniosa e aperfeiçoada”.[2] Petrarca se referia ao período anterior ao Renascimento como tenebrae.[3] O desprezo pela Idade Média encontra-se também presente na obra de Condorcet Tableau des Progrès de l’ Éspirit Humainde 1794. O renascentista Flávio Biondo (1392-1463) embora não tenha usado o termo “idade média - medium aevum” foi o primeiro a atribuir um esquema em tres etapas da historia para descrever a grandeza da antiguidade, o período entre a queda de Roma e o ressurgimento das artes em sua época.[4] Segundo Daniel Boorstin: “o pensamento ocidental nunca se refaria do seu modo de cortar todo o passado europeu num período de glória antiga num período de renascimento moderno com uma era media de desintegração e declínio no meio”. [5]Em 1469 o bibliotecário papal Giovanni Andrea refere-se a media tempestas, a um tempo médio, marcado pelo flagelo e ruína.[6] O termo “idade média” aparece no manual escolar Historia Medii Aevi de Christoph Keller conhecido por Cellarius de 1688.[7] Voltaire ignora o termo no entanto em essai sur les Moeurs já se refere ao “degosto que causa a história moderna desde a decadência do império romano”, de modo que Marc Bloch reconhece em Voltaire e outros iluministas contribuíram para o termo acabsse sendo adotado amplamente, especialmente após Michelet, quando passou a “ter a honra de bastar por si só, como sinal de um período inteiro”. [8]O romantismo do século XIX trouxe um resgate dos valores medievais como o Fausto de Goethe, O corcunda de Notre Dame de Victor Hugo e os romances de Walter Scott como Ivanhoé e a música de agner como Tristão e Isolda e Parsifal. Na historiografia dessa época Thomas Carlyle irá se referir à idade média como “a coisa mais elevada” e Michelet na Histoire de France a irá definir como “aquilo que amamos, aquilo que nos amamentou quando pequenos, aquilo que foi nosso pai e nossa mãe, aquilo que nos cantava tão docemente no berço”.[9]
[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.563; GOFF, Jacques. A idade média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 17
[2] ROUSSEAU, Jean Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. Os pensadores: Rousseau, São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 197
[3] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.11
[4] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 15
[5] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.523
[6] JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 17
[7] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.23; AMALVI, Christian. Idade Média. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 600; JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.14
[8]BLOCH, Marc. Introdução à história, Lisboa: Pub. Europa America,1941, p. 155
[9] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.13
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