sexta-feira, 19 de junho de 2020

O progresso em Vico



Para Hilário Franco a visão racionalista do universo foi produto da concepção cristã de Deus que percebia uma unidade cosmológica de todas as coisas percebida por meio de símbolos: “a religião cristão, ao dessacralizar a natureza, não mais vista como um conjunto de divindades, traz em si certa atitude racionalista”, onde todas as coisas participam da ordem inteligível do universo.[1] Marc Bloch por sua vez entende que o cristianismo trouxe um conceito de história da humanidade, em encadeamento lógico ao desenvolvimento das sociedades: ‘O cristianismo é uma religião de historiadores. Outros sistemas religiosos puderam fundar suas crenças e seus ritos em mitologia mais ou menos exterior ao tempo humano. Por livros sagrados, tem os cristãos livros de história, e suas liturgias comemoram, com os episódios da vida terrestre de um Deus, os fatos da Igreja e dos santos. O cristianismo é, além disso, histórico em outro sentido, quiçá mais profundo, situado entre a queda e o juízo final, o destino da humanidade representa, a seus olhos, uma larga aventura, da qual cada destino, cada peregrinação individual, oferece por sua vez o reflexo, na direção e, portanto, na história, eixo central de toda a meditação cristã, se desenrola o grande drama do pecado e da redenção”.[2] Nesse sentido, o caráter histórico traz diante de si o sentimento de progresso. Para Giambattista Vico (1668-1744) em Principii di uma Nuova Scienza de 1725 a sociedade nunca retrocede, pois sempre ascende graças a Providencia Divina. Cada estágio do desenvolvimento da humanidade produziu a sua literatura característica. Os pensamentos da sociedade em uma época são moldados como produto de sua experiencia social de modo que nenhuma verdade tinha validade absoluta, sendo tão somente produto secundário de sua época, exceto o cristianismo.[3] Na Ciência Nova, Vico busca um entendimento científico da história aliado à visão metafísica da lei divina imutável, ao qual denominou a "história ideal eterna", que procurava criar um princípio universal de história para todos os povos em todos os tempos.
[1] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.164
[2] GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 307
[3] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.552

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...