sábado, 13 de junho de 2020

Pergaminho

Segundo o relato de Plínio o Velho em História Natural, Eumenes da cidade rival de Alexandria, Pérgamo no século III a.c. diante da proibição de exportação do faraó Ptolomeu Epifanes[1], inventou o pergaminho (charta pergamena[2], pergamenai[3], vellum[4]), mais resistente embora mais caro que o papiro, tornando-se um importante centro produtor no período helenístico[5]. De fato Ptolomeu VI Epifanes, que governou de 205 a 182 a.c., tomou a medida de restrição à exportação do papiro como medida para conter o avanço da Biblioteca de Pérgamo com duzentos mil volumes[6] já rivalizava com Alexandria famoso por seus setecentos mil volumes. Em 185 a.c. o rei Eumenes II iniciou em Pérgamo a indústria do pergaminho o que contribui para maior difusão do livro, no entanto, segundo Plínio em História Natural, o uso do pergaminho já havia se difundido na Anatólia antes de seu uso em Pérgamo. O velino era o nome de um pergaminho particular, muito fino, feito da pele de um vitelo (do francês antigo veel).[7] Quando o papiro teve restrições de exportação no Egito os mosteiros e conventos o substituíram com vantagem pelo pergaminho, de resistência e qualidade superior, permitindo uso de técnicas como a miniatura e a iluminura, que dificilmente poderiam ser feitas com papiro que também podia ser escrito nos dois lados da folha[8]. Lionel Casson, contudo, observa que dificilmente Pérgamo teria inventado o pergaminho uma vez que o couro já há muito tempo vinha sendo empregado como suporte de escrita no Oriente Próximo, o que revela que possivelmente eles desenvolveram a técnica no sentido de reduzir a dependência com o papiro egípcio[9]. Mesmo nos tempos medievais o papiro não foi totalmente substituído pelo pergaminho tendo sido usado nas bulas papais até 1022. Tanto o papiro como o pergaminho foram totalmente substituídos pelo papel por iniciativa muçulmana á medida que se difundia o uso da nova tecnologia.[10] Por ser mais caro o pergaminho contudo não significou o fim do uso do papiro que também era ainda caro no período helenístico[11]. Ainda em 1022 as bulas papais eram publicadas em papiro.[12] José Mello argumenta que o próprio desenvolvimento do livro já exigia um suporte de melhor qualidade. [13]
[1] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.335
[2] PLAJA, Guillermo Diza,O livro ontem, hoje e amanahã, Rio de Janeiro:Salvat, 1979, p.22; JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.84
[3] CANTU, Cesare. História Universal, v. IV, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.87
[4] SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.25
[5] Focus Filmes. DVD. Os segredos da arqueologia. Os fabulosos centros o helenismo, Novara, Itália, v.5, 2002; LIBERATI, Anna Mari. A Roma Antiga, Folio: Barcelona, 2005, p. 236; MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 150
[6] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 189
[7] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.475
[8] MELLO, José Barboza. Síntese histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 72
[9] CASSON, Lionel. Bibliotecas no mundo antigo, São Paulo:Vestígio, 2018, p. 65
[10] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 153
[11] SARTON, George. Historia de la ciência, Buenos Aires:Editorial Universitaria Buenos Aires, 1959, p. 153
[12] SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.25
[13] MELLO, José Barboza. Síntese histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 93

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