terça-feira, 2 de junho de 2020

O quadrante nautico de Pedro Nunes

O quadrante náutico de origem árabe é mencionado na Relação do descobrimento da Guiné de Diogo Gomes em 1460 e permitia determinar a altura das estrelas[1]. Na carta do cosmógrafo português mestre João, encontrada por Varnhagen na Torre do Tombo em 1843[2], são descritas as técnicas de orientação no mar: “No mar é melhor reger-se pela altura do Sol do que pela altura das estrelas e vale mais usar um astrolábio do que um quadrante ou qualquer outro instrumento”. [3]A balestilha é descrita em Tratados como o In Hoc Opere Haec Continentur: Nova Translatio Primi Libri Geographicae Cl Ptolomaei de Johann Werner, publicado em 1522 e Chronographia repertorio dos tempos de Manoel de Figueiredo, publicado em 1605 onde orienta a como fazer a gradação do instrumento e sua fabricaão. Ao invés dos complicados astrolábio os portugueses usavam a balestilha, uma régua formada por duas varas articuladas, graduada muito fácil de utilizar com uma única peça móvel que podia ser alinhada com o sol e o horizonte para determinar o ângulo de elevação do sol.[4] A primeira descrição da balestilha é do médico judeu francês Levi ben Gerson em texto traduzido em 1342 para o latim em que era denominado baculus Jacobi / bastão de Jacó. A invenção mais tarde foi atribuída ao astrônomo e matemático Regiomontanus (1436-1476). Seu nome é atribuída à semelhança com a arma conhecida como besta, arma com a qual se disparavam flechas.[5] A balestilha foi um instrumento náutico bastante utilizado pelos Portugueses na Época dos Descobrimentos, e a sua primeira descrição encontra-se no Livro de Marinharia de João de Lisboa em 1514. O nônio (derivado de Nunes) é um instrumento auxiliar para leitura de frações de uma escala e útil na medida de ângulos criado pelo matemático português João Pedro Nunes (1502-1578). O instrumento era composto de 44 círculos concêntricos cada um marcado com divisões iguais de modo que o círculo mais exterior tinha 89 divisões e o mais anterior apenas 46. Lendo a escala no círculo que mais se aproximava da mira era possível medir frações de um arco de grau. Tycho Brahe na obra Astronomiae Instauratae Mechanica, de 1598, inclui gravuras de quadrantes dotados das escalas do sistema nónio. Um exemplar fabricado em 1595 por Kynuyn, se encontra em Florença e uma réplica no Museu de Marinha, em Lisboa[6]. Apesar de engenhoso não era prático e logo foi superado pelo transversal de Tycho Brahe em 1631 e pelo dispositivo de Pierre Vernier. Vernier simplesmente substituiu os círculos concêntricos interiores por um segmento concêntrico móvel que podia ser rodado até encontrar uma linha que correspondesse precisamente à linha de mira. Com o Vernier torna-se desnecessário a maior parte das marcações no nônio pois o disco central podia ser rodado para a posição requerida, o que permitiu aperfeiçoar de modo significativo a agrimensão e navegação. [7]
[1]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 92
[2]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 66
[3]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 132
[4]MIGLIACCI, Paulo. Os descobrimentos: origens da supremacia europeia, São Paulo:Scipione, 1994, p. 41; BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.58
[5]MOURÃO, Rogério. Dicionário de astronomia e aeronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.81
[7] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.365

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