sexta-feira, 24 de julho de 2020

Charrua medieval

Geoges Duby observa que os dados sobre arados usados na idade média datam do renascimento carolíngio no final do século VIII, relativos a propriedades maiores e mais bem administradas [1] Enquanto na região mediterrânea era usado um arado leve sem rodas, aratrum em latim ou araire em francês, os solos pesados da zona temperada da Europa exigiam um arado mais pesado para poder revolver a terra adequadamente a carruca em latim ou charrue em francês, o arado com rodas puxado por bois, que no Edictus Rotharii de 643 era descrito como plovum[2]. Lynn White observa que o sistema de três campos aumentou muito a produtividade agrícola em fins do século VIII. A adoção da charrua de ferro foi fundamental para o aumento de produtividade e consequente urbanização e aumento populacional no norte da Europa.[3] Jean Gimpel observa que se a relha das charruas medievais não fosse ao menos parcialmente de ferro jamais teriam conseguido desbravar as terras virgens e florestas do oeste e norte da Europa. [4] Outro aspecto decisivo para o aumento de produtividade na agricultura do século X foi a adoção do sistema de pousio e rotação de culturas,[5] assim como a prática da margagem ao tempo de Carlos Magno, uma argila que contém carbonato de cálcio e quando misturado à terra atua como fertilizante.[6] O arado de metal, que permitia abrir sulcos mais largos e profundos, foi adotado na Europa somente no século XVIII, após vencer a resistência dos camponeses que acreditavam que o ferro envenenaria o solo.[7] Na Russia  a charrua de aivecas teve difusão bastante lenta e até o século XX o camponês russo ainda utilizava o simples arado ou soka (charrua de madeira). [8]



[1] DUBY, George. Guerreiros e Camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu do século XII. Lisboa: Estampa, 1980, p. 26, 28

[2] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.26

[3] WHITE, Lynn. Tecnologia e invenções na Idade Média. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp, 1985, p. 95

[4] GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.38

[5] WHITE, Lynn. Medieval technology & social change. Oxford University Press, 1964, p.69; HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.216, 218; BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.326

[6] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.28

[7] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.509

[8] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 290



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