terça-feira, 2 de junho de 2020

Alquimia e Royal Society

Embora alquimistas como Robert Moray e Elias Ashmole[1] estejam incluídos entre os membros fundadores da Royal Society não tinham uma participação ativa na sociedade.[2] Elias Ashmole havia sido aceito mesmo depois de ter escrito Theatrum Chemicum Britannicum uma defesa direta a hermetistas como John Dee.[3] Hooykaas mostra que alguns dos membros da Royal Society valeram-se de tradições herméticas, teosóficas e paracelsistas entre os quais Thomas Tymme.[4] Os alquimistas Noah Biggs, John Webster e John Hall embora desejosos de introduzir os temas herméticos e paracelsistas enfatizavam, contudo que seu objetivo principal era difundir o caráter experimental das pesquisas[5]. O duque de Buckingham admitido como membro em 1661 trouxe para experimentos pó de unicórnio, em outra ocasião John Houghton orgulhosamente trouxe uma galinha de quatro pernas[6]. Robert South em sermão na abadia de Westminster em 1667 desfere severos ataques a Royal Society a qual chama de “sociedade diabólica” por fomentar o ateísmo.[7] John Webster refere-se a hermetistas como John Dee e Robert Fludd como homens extremaente cultos[8]. Hermetistas como o médico Jonathan Goddard, o matemático John Wallis e o linguista John Wilkins também fizeram parte do registro na Royal Society em 1660.[9] Robert Merton, contudo, mostra que entre os fundadores da Royal Society a maioria era puritana[10]. Na reunião de 28 de novembro de 1660 no Gresham College que deu origem a Royal Society estavam presentes o matemático William Brouncker, o astrônomo Paul Neile, o filósofo natural Robert Moray, o médico inglês Jonathan Goddard, o economista William Petty, o astrônomo William Balle, o astrônomo Lawrence Rooke e o comerciante Abraham Hill. O químico Robert Boyle, o arquiteto Christopher Wren, o inventor Alexander Bruce, o filósofo natural John Wilkins viriam a se juntar ao grupo em 1663 e não estiveram na reunião de 1660 como afirma Philip Fanning. Não há documentos conclusivos quanto a Christopher Wren ser maçom[11]. Dentre este grupo fundador de doze membros eram maçons Alexander Bruce, Robert Moray. Hooykaas conclui: “sem dúvida, como em qualquer movimento de vanguarda, houve fanáticos entre os puritanos; por outro lado, eles, como todos os seus contemporâneos, mantiveram algumas tradições medievais”.[12]Frances Yates mostra uma carta de Robert Boyle de 1646 em que ele se refere a construção de “novo colégio filosófico” e pede ao destinatário da carta que envie livros que possam ser úteis “os quais contribuirão extraordinariamente para sejam muito bem recebidos em nosso Colégio Invisível”, uma referência à terminologia usada entre os rosacruz e que teria sido deliberadamente omitida por Sprat ao descrever as origens da Royal Society.[13] Frances Yates reconhece que entre os membros iniciais da Royal Society já havia uma intenção em se desvencilhar de acusações de hermetismo, quando por exemplo Thomas Sprat descreve Francis Bacon como professor de “filosofia experimental” livrando-o de outras associações.[14]
[1] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 262; YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.242
[3]YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.247
[4] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.177
[5] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.179
[6]TINNISWOOD, Adrian. The Royal Society, London:Head of Zeus, 2019, p. 51
[7]TINNISWOOD, Adrian. The Royal Society, London:Head of Zeus, 2019, p.110
[8]YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.235
[9] FANNING, Philip. Isaac Newton e a transmutação da alquimia, Santa Catarina:Danúbio, 2016, p. 142
[10] HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência moderna. Rio de Janeiro:Zahar, 1998, p. 90; HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.124, 128
[11] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 289
[12] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.180
[13]YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.231
[14]YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.236

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