terça-feira, 2 de junho de 2020

O latim na antiguidade

No setor cultural Jonathan Lyons observa que a aristocracia do império romano lia os mestres gregos como Platão, Arquimides, Euclides ou Aristóteles nos originais escritos em grego. O grego era a língua predominante na ciência. Ptolomeu do Egito e Galeno na Síria por exemplo não falavam latim. [1]Não havia traduções para a lingua franca falada pela população em geral, o latim. O latim funcionava como um elemento cultural importante de unificação do império romano.[2]Para Georges Duby “a unidade do Império fundou-se sobre uma língua, a dos mandamentos dos militares, a dos decretos de justiça, a das liturgias do poder: a língua do velho país latino que impôs-se, esmagando as falas locais”.[3]Com a invasão dos bárbaros e consequente desaparecimento completo do grego como língua de estudo isso levou a séculos de conhecimento virtualmente apagado de uma Europa dominada com línguas latinas[4]. Hilário Franco mostra que com o fim do Império romano o latim modificou-se tanto que por volta de 600 ele deixou de ser falado transformando-se em novos idiomas românicos sobrevivendo apenas como língua eclesiástica.[5]Cesare Cantu observa que mesmo no império romano o latim não era falado em toda a Europa. A reforma carolíngia no século IX conferiu ao latim a correção clássica que havia perdido, o que o afastou ainda mais das línguas românicas que se formavam[6]. Em 787 Carlos Magnos editou para todos os bispos a Capitulare de litteris colendis ou diretriz sobre o estudo de letras em que repreendia os eclesiásticos por “linguagem grosseira” e “línguas incultas”. [7]O latim teria seu prestígio retomado com o renascimento carolíngio tornando-se a língua sagrada, da liturgia e do culto, do ensino, sendo a língua portadora de toda a herança da Antiguidade.[8]
[1] SARTON, George. Ciencia antigua y civilizacion moderna, Buenos Aires, Fondo de Cultura, 1960, p.51
[2] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.67
[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.68
[4] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.50
[5] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.103
[6] SCHMITT, Jean Claude. Clérigos e leigos. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 275
[7]DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.256
[8] VERGER, Jacques. Homens e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 17, 18, 26

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