terça-feira, 2 de junho de 2020

Moto contínuos

O jesuíta alemão Athanasius Kircher propôs uma máquina de movimento contínuo em 1641, assim como Robert Fludd[1]em 1611 e Marsilius de Inghen[2]primeiro reitor da Universidade de Heildeberg entre 1386 a 1396, todos baseados no aproveitamento do campo magnético ou gravitacional terrestre. [3]Escrevendo em 1150 o astrônomo hindu Bhaskara descreve um moto contínuo em sua obra Siddhanta siromani, uma ideia consistente com o conceito cíclico da filosofia hindu de auto perpetuação da natureza e reencarnação. [4]Em 1269 Peter de Maricourt, que Roger Bacon considerava como grande cientista, a quem chama de Dominus experimentorum[5]- “mestre do experimentos”[6], desenvolveu mecanismos do tipo perpetuum mobile baseados no magnetismo, o que mostra que o tema despertava grande interesse entre os engenheiros na época: “vi muitos homens exaustos em sua investigação para inventar essa roda [que gira sozinha]”.[7]René Taton observa que Pedro Maricourt ”denota, com efeito, um espírito de observação e um senso de experimentação surpreendentes, mormente para a época[8]. Nos escritos do arquiteto Villard de Honnecourt do século XIII encontram-se mecanismos relacionados com o moto contínuo: “inúmeras vezes discutiram entre si os mestres para fazer girar uma roda por si mesma. Eis como é possível fazê-lo, por meio de malhetes não pares e mercúrio”.[9]Friedrich Klemm mostra que esse interesse em moto contínuos no século XIII surge na mesma época se disseminam as traduções do árabe dos textos de Aristóteles. Cornelis Drebbel patenteou em 1598 um relógio que pode ser usado por cem anos sem que se dê corda, desde que suas engrenagens não se desgastem[10]. A ideia de um moto contínuo capaz de manter indefinidamente um movimento circular uniforme era visto como uma profanação da doutrina aristotélica que previa tais movimentos apenas no mundo perfeito dos céus, ou seja, o moto contínuo constituía uma dessacralização das cosmologia aristotélica.[11]
[3] Scientific American. A ciência na idade média, Portugal:Duetto, n.1, p.80
[4] WHITE, Lynn. Medieval technology & social change. Oxford University Press, 1964, p.130
[5] GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.164
[6] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.114
[7] GIMPEL, op.cit, p.112
[8] TATON, René. A ciência moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.141
[9] GIMPEL, op.cit, p.111
[10] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.340
[11] KLEMM, Friedrich, A history of western technology, London:Ruskin House, 1959, p. 89

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