terça-feira, 2 de junho de 2020

Astrologia de Tycho Brahe e Kepler

Tycho Brahe fazia previsões astrológicas para a corte do rei Frederico: “a astrologia não vincula o desejo do homem às estrelas, uma vez que existe algo que é mais elevado nos seres humanos do que as estrelas pela qual eles podem dominar as sinistras inclinações das estrelas, o que ocorre se de fato viver verdadeiramente de um modo não mundano”.[1] Em uma das previsões quanto ao futuro do jovem príncipe Tycho Brahe destacou que “Vênus o tornará cortês e adepto das artes, marte o tornará belicoso [..] Ele não terá muitos filhos, uma vez que Saturno aparece como mestre da quinta casa de seu mapa astrológico, como sinal de esterilidade”. Galileu, contemporâneo de Tycho Brahe fazia horóscopos para a corte dos Medici.[2]Johann Kepler filho de pais protestantes teve de lidar com dificuldades financeiras diante dos poucos recursos como livre docente de matemáticas em Gratz: “a mãe sábia astronomia passaria fome fatalmente se a filha tola / prostituída / impura (buhlerische) astrologia não ganhasse o sustento de ambas[3]. Kepler publicava almanaques com previsões astrológicas de acordo com suas observações da posição dos astros[4], o que revela que o aspecto econômico era um dos fatores que explica a convivência entre astronomia e astrologia.[5] Há registro de correspondências de Kepler para o general Wallenstein em 1633 com previsões astrológicas, com recomendações de que tais previsões não fossem levadas muito a sério. Isidoro de Sevilha no século VI considera a astrologia como ciência legítima[6]. Kepler considerava a maioria da astrologia tradicional como sendo "esterco fedorento" em que "uma galinha diligente encontra também um pouco de grão bom". Em Stella Nova ao narrar a descoberta de uma SuperNova em 1604: “nada existe e nada acontece no céu visível que não encontre ressonância, de algum modo oculto, nas faculdades da terra e da natureza, as faculdades do espírito deste mundo são afetadas na mesma medida que o próprio ceu”.[7] Místicos como Hildegard de Bingen compartilham a ideia de que o microcosmo é um reflexo do macrosmo, assim como Isidoro de Sevilha expõe em De Rerum Natura e Bernardo Silvestre no século XII em De mundi universitate sive megacosmus et microcosmus.[8] A palavra influenza é um resquício dessa correlação.[9]Mesmo Leonardo da Vinci estabelece analogias entre vasos sanguíneos, o traçado dos rios, os de um cacho de cabelo e diversos outros padrões encontrados na natureza, seguindo o pensamento de Platão no Timeu de que assim como o corpo humano é alimentado pelo sangue a Terra é alimentada pela água, bem como do monge italiano Restoro d’Arezzo do século XIII.[10] A crença de Vitrúvio de que as proporções humanas são análogas às de um templo e ao macrocosmo, são tema central na obra de Leonardo da Vinci que sintetiza esse conceito em seu clássico desenho do Homem vitruviano.[11]
[1]GADE, John Allyne. The life and times of Tycho Brahe, New York: Princeton University Press, 1947, p. 54
[2]GADE, John Allyne. The life and times of Tycho Brahe, New York: Princeton University Press, 1947, p. 25
[3] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 349; WEST, John Anthony. Em defesa da astrologia, São Paulo:Siciliano, 1992, p. 93
[4] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.516; BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.174
[5] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.210; McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.217
[6] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.84
[7] WEST, John Anthony. Em defesa da astrologia, São Paulo:Siciliano, 1992, p. 94; https://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Kepler
[8] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.237
[9] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.324
[10] ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro:Intrínseca, 2017, p. 455
[11] ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro:Intrínseca, 2017, p. 174, 247

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