Os dados obtidos nos estudos de Rae Jean Dell Flory, Stuart Schwartz, João Fragoso, Manolo Florentino e Jorge Caldeira realizados após 1970 mostra que ao longo de todo o século XVIII apesar de transferir enormes somas à metrópole (a carga tributária da colônia aumentou enquanto a da metrópole diminuiu) o desempenho da economia colonial superou ao da economia da metrópole, diferença que se acentuou ainda mais com o fim do ciclo do ouro quando a economia colonial estava em franco crescimento e a da metrópole em declínio.[1] Do ponto de vista fiscal o Brasil transformara-se no que D. João IV definiu como “a vaca leiteira do Reino”[2]. Durante o ciclo do ouro Portugal aplicava enormes quantidade de recursos em palácios como os de Mafra, com construção iniciada em 1716 no reinado de D. João V e que consumiu 140 toneladas de ouro ou vinte anos de arrecadação do quinto do ouro no Brasil.[3] Roberto Simonsen mostra dados de Humboldt que indicam que na Europa do século XVIII mais de 9/10 dos metais preciosos que afluíam aos mercados provinham das colônias da América. Entre 1493 e 1803 a América espanhola contribui com cerca de um bilhão de libras de produção de ouro ao passo que a do Brasil cerca de 200 milhões[4] e que a circulação amoedada na Europa do século XVI não devia ser superior a 50 milhões de libras, o que mostra a dimensão do impacto que a produção de ouro e prata das colônias americanas provocou na economia europeia forçando a elevação dos preços e criando um padrão de vida elevadíssimo em Portugal e Espanha em desacordo com as possibilidades de sua lavoura e indústria.[5] Sobart destaca que o ouro brasileiro permitiu uma nova etapa do capitalismo: “Sem a descoberta (acidental!) das jazidas de metais precisos sobre a altura das Cordilheiras e nos vales do Brasil, não teríamos o homem econômico moderno”. [6] O historiador português João Ameal destaca que sob o reinado de d. João V (1706 a 1750) em pleno ciclo do ouro no Brasil: “Um aspecto a salientar nesse reinado é a brilhante prosperidade material derivada da exploração intensiva das minas de ouro do Brasil. Injustamente acusam o Monarca de perdulário certos historiógrafos tendenciosos. A maneira como emprega os tesouros que chegam da América portuguesa vem a produzir inúmeros benefícios para o País [Portugal].assim, são iniciativas suas as construções do aqueduto da águas Livres, fundamental para a higiene e o progresso de Lisboa; do Hospital das caldas; da preciosíssima capela de São João Batista, integrada hoje na Igreja de São roque; da suntuosa Patriarcal; do Mosteiro das Claristas, do imponente e gigantesco Convento de Mafra,que, pela grandiosidade, atesta, só por si, uma culminância na nossa história monumental e artística. Recordem-se ainda, nos domínios da Cultura, a fundação em 1720 da Academia Real da História e as edificações das bibliotecas de Coimbra e de Mafra”. [7]
[1] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.148
[2] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.103; CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.59
[3] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.143; CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.91
[4] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.284
[5] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.252
[6] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.268
[7]AMEAL, João. Breve Resumo da História de Portugal, Lisboa: Livraria Tavares Martins, 1964, p.77
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