Caio Prado Jr., em Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pela primeira vez em 1942 defende a tese de que enquanto houveram colônias de povoamento nos EUA, no Brasil tivemos colônias de exploração para explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. Roberto Simonsen já apontara o interesse mercantil de Portugal quando renomeou o país de Terra de Santa Cruz para Brasil. O católico João de Barros já denunciava os interesses mercantilistas: “por artes diabólicas se mudava o nome de Santa Cruz, tão pio e devoto, para o de um pau para tingir tecidos”. Segundo o jesuíta do século XVI: “vergonha que a cupidez do homem, por preocupações do tráfico, substituísse o lenho da cruz, tinto com o real sangue de Cristo, pelo de outra madeira, semelhante somente na cor”.[1] Para Roberto Simonsen de uma mera colônia de exploração o Brasil foi se transfigurando em uma colônia mista de povoamento e exploração mais tarde[2]. Roberto Simonsen, porém, aponta que no século XVI as rendas com pau brasil tornavam a colônia deficitária para o erário real.[3]O historiador português João Ameal, ao abordar a mestiçagem de portugueses com mulheres nativas, contudo, tem outra perspectiva: “É pois exato afirmar que Portugal não coloniza, reparte-se, em quantas localidades se instala. Cria outros Portugais, ou melhor: cria províncias fieis ao modelo da Nação-mãe. Reparte sem reservas os seus valores espirituais e éticos, as suas estruturas cívicas, as suas normas de coexistência, os seus métodos de trabalho. Não é, de modo algum, o tipo do Povo-parasita, que se intromete em casa alheia para explorar ou oprimir; é sim, do tipo Povo-irmão: funda novos lares, que, pelos elos estabelecidos com os lares primitivos, lhe asseguram natural posição no meio deles. Enquanto dá ao Mundo novos mundos, insere-se em enraíza-se, em igualdade autêntica de liberdades e faculdades, em conjunto humano fraterno e estável, nesses novos mundos que revela. Assim acontece nas terras da África, assim na ìndia e na China, assim na Oceania, assim no Brasil”.[4]
[1] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.64
[2] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.32
[3] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.92
[4]AMEAL, João. Breve Resumo da História de Portugal, Lisboa: Livraria Tavares Martins, 1964, p.50
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