quarta-feira, 3 de junho de 2020

Laocoonte

Para Lewis Mumford o conceito de Renascimento é mais restrito do que se supõe: ”Renascimento ? Não: purificação, uma tentativa para voltar ao ponto de partida, como um pintor que recobrisse as cores embaçadas e as formas confusas de sua tela para recobrar as linhas de seu esboço original”.[1] O Renascimento como um despertar da antiguidade foi formulado ao longo de todo o período que se estende desde Petrarca até Vasari. [2] Segundo Nicolau de Cusa: “Vemos por toda a parte que os espíritos dos homens consagrados cada vez mais ao estudo das artes liberais se voltam para a Antiguidade, e com extrema avidez, como se todos esperassem presenciar, em breve, o encerramento do ciclo inteiro de uma revolução”.[3]Segundo Jacob Burckhardt: “não se tinha convicção mais firme do que a de que a Antiguidade constituía justamente a mais alta glória da nação italiana[4]. Um exemplo do resgate do conhecimento clássico se observa com a sensação provocada pela recuperação da escultura Laocoonte citada por Plínio em História Natural XXXVI,37 e redescoberta por Felice de Fredi em 1506 quando fazia obras de manutenção em sua vinha em Roma[5]e logo adquirida pelo papa Julio II que o colocou nos jardins do palácio Belvedere.[6] A escultura e sua estética helenística foi uma das infuências principais nos trabalhos de Michelângelo. Laocoonte era um sacerdote de Apolo, mas, contra a vontade de Apolo, se casou e teve dois filhos, Antífantes e Timbreu. Segundo a lenda descrita na Eneida de Virgilio, quando Laocoonte estava fazendo um sacrifício a Netuno, Apolo (algumas versões se refere a Atena e Poseidon) enviou duas serpentes de Tênedos, que mataram o sacerdote e seus dois filhos, uma vez que Laocoonte havia atirado uma lança contra o cavalo aconselhando aos troianos a queimar o cavalo de madeira enviado pelos gregos como presente se colocando assim contra o plano original dos gregos. Subitamente Lacoonte havia sido acometido de cegueira. Os troianos interpretaram o evento como um castigo dos deuses sobre Laocoonte por este ter atirado uma lança no cavalo de madeira. Então, eles prontamente decidiram transportar o cavalo para a cidade. O episódio narra como somos às vezes derrotados ou até mesmo causamos dano a outrem por uma desnecessária ou indevida “boa intenção”.
[1] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 379
[2] BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália, São Paulo:Cia das Letras, 2009, p.28
[3] PERROY, Edouard. História Geral das Civilizações. A idade média : os tempos difíceis, tomo III, v. 3, São Paulo:Difusão, 1958, p. 123
[4] BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália, São Paulo:Cia das Letras, 2009, p.201
[5] DURANT, Will. História da civilização, 5ª parte, A Renascença, tomo 3°, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.27
[6]Vatican Museums, Rome:Libreria Editrice Vaticana, 2011, p.57

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