terça-feira, 9 de junho de 2020

Harúspices romanos

A vontade dos deuses era conhecida pelos augures consultando-se as vozes da natureza, de modo que qualquer perturbação desta ordem era considerada um sinal nefasto de tal modo que as assembleias municipais deviam suspender suas sessões tão logo relampejasse ou trovejasse.[1] Um espelho de bronze de Vulceios datado de 400 a.c. mostra um haruspice etrusco que examina o fígado de uma vítima,[2]uma atividade correlacionada com a análise de fenômenos naturais como trovoadas.[3]Os sacerdotes árbitros destas questões eram eleitos pelo colégio de intérpretes dos livros sibilinos, escolhidos entre os representantes plebeus.[4]O senado romano segundo relato do poeta Luciano em seu poema A Guerra Civil consultou o grande arúspice etrusco Arunte para uma consulta. Um touro foi sacrificado para se consultar suas entranhas, que ao ser degolado espirrou um líquido denso e esverdeado, prenúncio de uma desgraça iminente, o que veio a ocorrer com a guerra civil que se instaurou logo depois entre Cesar e Pompeu, que acabou com a República e deu origem ao Império. Luciano, contudo, escreveu esta estória depois dos fatos. [5] Segundo Mario Giordani o exame de entranhas de animais era uma prática de origem etrusca que teri sido introduzida em Roma na crise motivada pela Segunda Guerra Púnica (218 a.C. – 201 a.C) quando foram consultados harúspices provenientes da Etrúria para saber os destinos da guerra. O prestígio dos oráculos em Roma era enorme com consultas feitas por ordem do Senado e através dos ofícios de um sacro colégio de sacerdotes.[6]Alguns arúspices romanos faziam suas previsões observando o modo como comiam os frangos; se comessem os grãos deixando cair um pouco no chão era bom presságio, caso contrário os deuses não estavam a favor.[7]Entre os etruscos a observação do vôo dos pássaros em uma parte do ceu ou no interior do templum eram usada para presságios.[8]Cláudio Pulcro, comandante da esquadra romana na primeira guerra púnica consultou um bando de frangos que levara para observar como comiam e decidir sobre a melhor estratégia. Como os frangos se recusavam a comer Cláudio Pulcro lançou os animais ao mar. Ao final tendo sido derrotado na guerra contra os cartagineses Cláudio foi julgado e condenado por ter ofendido aos deuses com sua atitude.[9]
[1] ONCKEN, Guilhermo. História Universal – História de Grécia e Roma, Francisco Alves:Rio de Janeiro, v.IV, p.600
[2] BLOCH, Raymond. Os etruscos. Lisboa: Editorial Verbo, 1970, p.254
[3] BLOCH, Raymond. Os etruscos. Lisboa: Editorial Verbo, 1970, p.143; ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 170
[4] BLOCH, Leon. Lutas sociais na Roma Antiga, Lisboa:Pub. Europa America, 1956, p.81
[5] DEARY, Terry. Terríveis romanos. São Paulo:Melhoramentos, 2002, p. 25
[6] HADAS, Moses. Roma Imperial, Biblioteca de História Universal Life, Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p. 133
[7] DEARY, Terry. Terríveis romanos. São Paulo:Melhoramentos, 2002, p. 23
[8] AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine, Roma e seu império, História Geral das Civilizações, São Paulo:1974, p. 30, 195
[9] HADAS, Moses. Roma Imperial, Biblioteca de História Universal Life, Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p. 132

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