quinta-feira, 11 de junho de 2020

Gutenberg e a imprensa

Como ourives Gutenberg até então trabalhava na produção de sinetes estampados sobre cera amolecida de que se deixava cair um pingo sobre os documentos. Por vezes esfregava-se tinta nos sinetes para impressão de monogramas estampados em papel. Ocorreu a Gutenberg a ideia de dispor várias letras entalhadas na madeira uma ao lado da outra para formar uma linha completa. Ao comprimir as letras de madeira em areia e em seguida despejando metal líquido nos sulcos, tal como latão, foi possível fazer tantas letras moldadas quantas desejou. As letras assim formadas podiam então ser movidas para compor palavras e frases, construindo o tipo móvel. Apesar de ser possível a impressão desta forma, o processo permitia um pequeno número de cópias com o mesmo conjunto de letras devido ao desgaste. Posteriormente ele substitui a areia por chumbo e diferentes ligas de estanho e cobre. O primeiro passo para a fundição de um tipo móvel era gravar uma letra ao contrário em relevo sobre um buril de aço que era usado para cunhar a matriz em um metal menos duro.[1] O método de Gutenberg possibilitou multiplicar o tipo metálico de letras individuais, ao invés de imprimir a página inteira divindido-a por partes. Os moldes fundidos para determinada letra eram permutáveis, o ponto central da invenção de Gutenberg foi seu molde especialmente concebido para fundir rapidamente e em peças similares todas de mesma altura[2]. Com apoio financeiro de John Fust foi preparada a Bíblia de 42 linhas (com 1465 páginas)[3]tem sido este o primeiro livro impresso pelo novo método. Gutenberg foi processado por Fust pelo não pagamento do empréstimo, tendo de lhe entregar seus tipos, sua prensa, ferramentas e papel. Fust por sua vez transferiu o material para outro impressor Peter Schoeffer que fez grande melhoramentos em todo o processo e viria a concluir a famosa Bíblia de 42 linhas, conhecida como Bíblia Mazzarina[4]. Com apoio do prefeito de Mogúncia Gutenberg montou nova oficina e publicou a Bíblia de 36 linhas em 1456 e o Catholicon em 1460. O Livro dos Salmos de Mogúncia foi impresso em 1457[5]. Em 1454 Gutenberg havia impresso sua primeira obra, um formulário regular de indulgências com espaços em branco para as quantias a serem pagas, o nome do comprador e do vendedor[6]. Com o saque e incêndio da cidade de Mogúncia, Gutenberg teve sua oficina destruída o que o obrigou a abandonar novamente a cidade. Em 1465 Adolfo de Nassau nomeu Gutenberg gentil homem de sua Corte dando-lhe uma pequena pensão[7]. Segundo Fletcher Prat, por ocasião de sua morte em 1468 Gutenberg embora sem sofrer a indignidade da miséria, foi reconhecido como inventor da imprensa.[8]Mogúncia, Estrasburgo e Bamberg foram as únicas cidades em que a imprensa se desenvolveu antes de 1460[9]. A primeira referência que menciona Gutenberg como inventor da imprensa data de 1499 na Chronicle of Cologne. [10]
[1]PHILLIPS, Ellen, Viagens de descobrimento 1400-1500, Rio de Janeiro:Time Life, 1991, p.115
[2] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.463
[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.113
[4] PERROY, Edouard. A idade média : os tempos difíceis, tomo III, v. 3, São Paulo:Difusão, 1958, p. 129
[5] MATTHEW, Donald. A Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.218
[6] LOON, Hendrick van. As artes. Porto Alegre:Edição da Livraria do Globo, 1941, p. 324
[7] SÁBATO, Ernesto. Nosso universo maravilhoso, Rio de Janeiro:Brasil Lê, v.IV, p.69
[8] PRATT, Fletcher. Famosos inventores e seus inventos, Rio de Janeiro:Record, 1964, p.16; MELLO, José Barboza. Síntese histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 147
[9] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 115
[10]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 327

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