segunda-feira, 15 de junho de 2020

Cardano e Tartaglia

Na Itália do século XVI Niccolò Tartaglia conseguiu resolver o problema de encontrar as raízes das equações de terceiro grau, porém preferiu manter seu algoritmo em segredo comunicando a solução a aapenas alguns amigos. A obra de Trataglia a Nova scientia de 1537 trata de balística e não de álgebra. [1]Jerônimo Cardano comunica Tartaglia que está escrevendo um livro de álgebra o Practica arithmeticae generalis e gostaria de conhecer a solução da equação de terceiro grau, que Tartaglia se recusa a comunicar. Com a insistência do cabalista[2]Jerônimo Cardano, Tartaglia escreveu a solução na forma cifrada de um poema de 25 linhas, o qual o matemático Cardano foi capaz de decifrar, com o compromisso de manter o segredo de seu autor. Cardano, contudo, transmitiu o algoritmo a seu secretário um jovem chamado Ludovico Ferrari que aperfeiçou o método para obter a solução das equações de quarto grau. Cardano ficou em situação difícil pois se publicasse a descoberta de Ferrari tornaria público o algoritmo de Tartaglia que se comprometera em não revelar. Tendo decorrido seis anos e sentindo-se liberado da promessa de segredo, ao saber que outro matemático, Scipione del Ferro, resolvera o problema das equações cúbicas, Cardano pode publicar sua solução na sua obra a Ars Magna, em 1545 em Nurembergue[3], atribuindo a solução das equações cúbicas a Scipione Del Ferro, o que deixou Tartaglia enfurecido. [4]O aluno de Cardano, Lodovido Ferrari descobrira a solução de equações quárticas. Seu método dependia da solução de uma equação cúbica associada cuja solução Cardano foi encontrar nos trabalhos de Del Ferro[5]. Tartaglia em sua Quesiti et inventioni diverse de 1546 acusou Cardano de ter revelado suas soluções que lhe confiara sob a promessa de segredo escrevendo em termos ofensivos que contribuíram para má reputação de Cardano na posteridade[6], da mesma forma que se dedica à quiromancia e a interpretação das marcas do rosto humano como assinaturas das interferências astrológicas na saúde da pessoa. Cardano dedicou-se a prática médica e obtinha deduções astrológicas auxiliadas pela matemática no lugar de dissecações de cadáveres para a pesquisa médica[7]. Entre os livros de astrologia de Cardano destacam-se De consolatione de 1542 e De Sapientia de 1544.[8]Após a publicação do livro Tartaglia desafiou Cardano para um duelo matemático. Este veio a se realizar em Milão em agosto de 1548 tendo Cardano enviado seu discípulo Ferrari. Depois de um tumultuoso julgamento Tartaglia retira-se desgostoso. [9]Colin Ronan observa que na Itália do século XVI muitos matemáticos mantinham sem segredo suas descobertas como forma de capitalizar recursos em disputas públicas como a de Cardano e Tartaglia é um exemplo[10].
[1] TATON, René. A ciência moderna: o Renascimento, tomo II, v.I, São Paulo:Difusão, 1960, p. 46
[2] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 373
[3] EVES, Howard. Introdução à história da matemática, São Paulo:Unicamp,2004, p.303; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.62
[4] BELLOS, Alex. Alex no país dos números: uma viagem ao mundo maravilhoso da matemática. São Paulo:Cia das Letras, 2011, p.218
[5] STEWART, Ian. O fantástico mundo dos números, Rio de Janeiro:Zahar, 2016, p.59
[6] GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científica, volume 1, Rio de Janeiro:contraponto, 2007, p.403
[7] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 112
[8]SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 32
[9] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.237
[10] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.61

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