terça-feira, 16 de junho de 2020

A escola de Tradutores de Toledo

As obras completas de Platão foram traduzidas por Marsílio Ficino em 1462, no Renascimento. [1]Na Holanda Daniel Hensius (1581-1655) da Universidade de Leiden editou Poética de Aristóteles bem como textos de Horácio, Sêneca e Terêncio[2]. Na Espanha Angelo Decembrio traduziu as obras de Aristóteles para o aragonês no século XV[3]. A tomada dos turcos de Constantinopla em 1453 levou a um êxodo de sábios e manuscritos importando muito da cultura de Atenas Clássica e de Bizâncio que levou ao Renascimento[4]. Will Durant observa que este movimento já havia se inciado antes de 1453 pois os monges bizantinos desde o século XIII, fugindo dos imperadores iconoclatas, levaram manuscritos gregos para a Itália meridional evitando tanto os muçulmanos como os cruzados servindo como “germes do classicismo”.[5]Em 1548 Francisco Robortello se destaca pelos seus comentários a obra Poética de Aristóteles. Régine Pernoud, contudo, observa que os catálogos das bibliotecas antes do século XV já indicavam a existência de obras clássicas com relativa frequência o que revela que o efeito que a importação de livros de Bizâncio não teve o efeito predominante na cultura ocidental como muitas vezes se atribui.[6]O conhecimento de importantes manuscritos gregos expandiu-se rapidamente graças às traduções para o latim e o italiano que se seguiram.[7]Uma das primeiras obras a ser traduzida na Escola de Toledo foi o Cânone da Medicina do sábio persa Ibn Sina (980-1037), conhecido no Ocidente pelo nome latinizado Avicena, tendo a cidade aatingido seu ápice com centro de tradutores com Afonso X, o Sábio (1221-1284). Gerardo de Cremona permaneceu na Espanha no século XII na Escola de Toledo para traduzir mais de setenta textos árabes[8]. Gerardo de Cremona traduziu do árabe diversas obras científicas de Aristóteles[9]. As obras lógicas e a Metafísica de Aristóteles, contudo, já eram conhecidas do Ocidente, pelos comentários feitos por exemplo por Clemente de Alexandria (Stromata Livro VI)[10]e Isidoro de Sevilha[11]entre outros, embora sem o aprofundamento exegético do século XII em parte em função das traduções mais confiáveis. No século XII entre outros tradutores que trabalharam tanto em cidades da Espanha como Toledo e Saragoça como no sul da França destacam-se também os ingleses Adelardo de Bath, Robert de Keatton, Robert Chester, os italianos Gerardo de Cremona e Plato de Tívoli, o austríaco Hermano de Caríntia e o holandês Rodolfo de Bruges.[12]Daniel Boorstin observa como muitas vezes o trabalho dos tradutores não é reconhecido, como no provérbio italiano traduttore, traditore (“tradutor, traidor”).[13]
[1] DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.96
[2] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 155
[3] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 187
[4] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 134
[5]DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.224
[6] PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 22
[7] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 11, 49
[8] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.195; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 114
[9] GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, v.I, p.114
[12] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 65
[13] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.496

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