terça-feira, 2 de junho de 2020

A ciência experimental dos gregos

Hooykaas observa que Platão teria desgostado da origem da palavra geometria que remete a ge, terra, e metron- medida.[1] No capítulo VII da República de Platão ele afirma: “Talvez, afinal, sejas tu quem pensa bem e eu tolamente; mas não posso reconhecer outra ciência que faça olhar para o alto, exceto a que tem por objeto o ser e o invisível; e, se alguém tenta estudar uma coisa sensível olhando para cima, de boca aberta, ou para baixo, de boca fechada, afirmo que nunca aprenderá - porque a ciência não comporta nada de sensível”.[2] Para Murillo Cruz: “os pensadores gregos, á exceção de Aristóteles, não condenavam simplesmente a experiência sensorial. Mas o que condenavam era a possibilidade da avaliação da verdade fundar-se nessa experiência. A avaliação e o fundamento da verdade deveriam vir da razão, como logos contemplativo [...] O fundamento da verdade se dará, portanto, na metafísica clássica, como uma busca/recebimento de um fundamento, de um princípio imutável das coisas e dos entes. O fundamento da verdade se dará, então, como descoberta, desvelamento (ou revelação) como exercício da razão (logos) contemplativa, e não como criação subjetiva autônoma, como exercício da razão experimental da modernidade”.[3] Platão no Fedro diz “conhecer é recordar, é superar a queda, é libertar-se do humano, é transcender”.[4] Apesar de seu desprezo pela aplicação prática da ciência Platão usava em sua aulas um dispositivo hidráulico como alarme para lembrar os horários de suas aulas especialmente à noite quando não podia dispor de um relógio solar.[5] Para Francis Bacon a sabedoria grega era baseada em um conhecimento professoral, transmitido do mestre ao discípulo sem recurso às fontes e mencionada por Dionísio Laércio sobre Platão quando se refere a tal conhecimento como “palavras de velhos ociosos a jovens ignorantes”[6].Francis Bacon explica o papel do experimento na ciência grega: “A ninguém cause espanto que no Livros dos Animais e nos Problemas, e, em outros tratados, ocupe-se frequentemente de experimentos. Pois Aristóteles estabelecia antes as conclusões, não consultava devidamente a experiência para estabelecimento de suas resoluções e axiomas. E tendo, ao seu arbítrio, assim decidido, submetia a experiência como a uma escrava para conformá-la às suas opiniões. Eis porque está a merecer mais censuras que os seus seguidores modernos, os filósofos escolásticos, que abandonaram totalmente a experiência [...] A reverência á antiguidade, o respeito a autoridade dos homens tidos como grandes mestres de filosofia e o geral conformismo ara com o atual estágio do saber e das coisas descobertas também muito retardaram os homens na senda do progresso das ciências, mantendo-os como que encantados.[...] A grade massa dos que convém na aprovação de Aristóteles é escrava do prejuízo e da autoridade de outros [..] No que respeita à autoridade, é de suma pusilanimidade atribuir-se tanto aos autores e negar-se ao tempo o que lhe é de direito, pois com razão já se disse que a verdade é filha do tempo, não da autoridade [...] Os gregos, com efeito, possuem o que é próprio das crianças: estão sempre prontos para tagarelar, mas são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril em obras”.[7]
[1] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.106
[2] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 96
[3] CRUZ, Murillo. A norma do novo, Rio de Janeiro:Lumen, 2018, p.40, 43
[4] CRUZ, Murillo. A norma do novo, Rio de Janeiro:Lumen, 2018, p.48
[5] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 145
[6]BACON, Francis. Novum Organum, Coleção Os pensadores Rio de Janeiro, 1973, p.47
[7]BACON, Francis. Novum Organum, Coleção Os pensadores Rio de Janeiro, 1973, p.39

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