domingo, 28 de agosto de 2022

A historiografia e o negro sujeito de sua própria história

 

Moacir Maia ao identificar o sentimento de unidade cultural entre os couranos mostra suas estratégias de inserção na sociedade escravista mineira como a possibilidade de escolha de padrinhos do mesmo grupo étnico a qual pertenciam[1], formação de núcleo famíliar (rompendo com o estereótipo de que o negro estava imerso em um ambiente de anomia social e promiscuidade no cativeiro[2]), participação em irmandades em um processo de reelaboração de signos e significados, como demonstrado no protagonismo dos courás na Irmandade do Rosário dos Pretos em Mariana e em Pilar de Vila Rica: “mesmo com as limitações impostas pelo cativeiro e pela prórpria sociedade colonial, nela viveram e nela reconstruíram suas vidas numa resistência adaptativa, noção aqui emprestada de Steve Stern: modo de os indivíduos se apropriarem, ativamente, dos signos sociais, novos ou antigos, como forma de resistirem a adversidades e opressões [...] São indícios importantes para que se possa compreender o papel dos couranos enquanto sujeitos de sua própria história”.[3]

[1] MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benin para Minas Gerais, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 259

[2] MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benin para Minas Gerais, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 173

[3] MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benin para Minas Gerais, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 261



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