segunda-feira, 13 de junho de 2022

Mistérios de Orfeu

 

É nas essências eternas que deve estar o verdadeiro objeto do saber, o homem deve desviar do mundo oferecido pelos nosso sentidos e buscar o ideal de perfeição, a ideia de número. [1] O mundo observado nada mais é que a sombra dessa verdadeira realidade como explicado no mito da caverna de Platão.[2] O prisioneiro libertado de suas correntes que consegue sair de sua caverna e ver a luz é tal qual o filósofo que inicia sua missão iluminadora e libertadora para os demais prisioneiros numa referência a Descida ao hades celebrada pelos órficos e pitagóricos. Na mitologia grega depois de morto ser sepultado sua alma era conduzida em um barco pelo rio Aqueronte pelo barqueiro Caronte. As pessoas eram enterradas com uma moeda na boca para que a usassem para que pagassem ao barqueiro pelo seu transporte. No latim, o óbolo de Caronte é por vezes chamado viático (em latim: viaticum) que significa "provisão para uma jornada", abrangendo alimentos, dinheiro e outros suprimentos. Com base neste sentido metafórico de "provisão para a jornada na morte", a literatura cristã pegou emprestado o termo viático para a forma da eucaristia que é colocada na boca duma pessoa que está morrendo como provisão para a passagem da alma para a vida eterna, tal como encontramos no relato de Paulino de Nola sobre a morte de Santo Ambrósio de Milão em 397.[3] Orfeu desceu ao mundo dos mortos em busca de sua amada Eurídece que havia sido morta pela picada de uma cobra. Ao tocar sua lira ele conseguiu trazer sua amada de volta vencendo a própria morte, com isso trouxe ao mundo uma revelação para a salvação das almas.[4] Platão estabelece um fosso entre o mundo material e o mundo das ideias. Esta confusão entre sombras que são tomadas como realidade acontece não por causa da natureza dos homens e sim pela condição adversa em que eles se encontram[5].

[1] KOYRE, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Brasília:Forense,1982, p.33

[2] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: das origens à Grécia. São Paulo:Círculo do Livro, 1987, p.101; JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.826; ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.50; MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.215

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93bolo_de_Caronte

[4] READER’S DIGEST, Os últimos mistérios do mundo, Rio de Janeiro, 2003, p. 50

[5] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 11; GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 105



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