quarta-feira, 22 de junho de 2022

A magia no Antigo Egito

 

Wallis Budge observa que a magia dos egípcios era de dois tipos: (1) aquela que era empregada para propósitos legítimos e com a ideia de beneficiar os vivos ou os mortos, e (2) aquela que era usada para promover atos nefastos. tramas e esquemas e pretendia trazer calamidades sobre aqueles contra quem era dirigido.[1] Segundo Guilherme Oncken os sacerdotes egípcios dominavam a “linguagem dos deuses” estabelecendo uma separação completa entre o profano e o sagrado: “a consequência disto era o vulgo não saber o que significavam a ciência e a religião, que a tradição transmitira e cujas formas seguia com supersticiosa exatidão, ao passo que o sacerdócio se separava cada vez do povo e vivia num mundo quimérico, cujos fantásticos ideais não podiam nunca ser postos em prática”.[2] Byron Shafer mostra que o acesso às forças ocultas podia se dar por meio de sonhos alguns dos quais registrados em livros dos Sonhos como os de Hor de Sebannytos do século II a.c.[3] Hor de Sebannytos foi um profeta de grande prestigio por ter profetizado com sucesso ao imperador Ptolomeu VI a retirada dos selêucidas e seu imperador Antioco IV do Egito o que de fato veio a ocorrer apenas um mês após sua profecia.[4] A interpretação dos sonhos era uma prática importante uma parte de heka, ou magia[5], como praticada no Egito. Jean Voyotte observa o papel teocrático do Estado egípcio “a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente, raciocinada, admiravelmente perceptível e serena”. Pelo maior contato com o Mediterrâneo e as novidades que chegavam como a escrita pictográfica, a arte de construir barcos e a metalurgia John White atribui aos egípcios do Baixo Egito um caráter mais inventivo e adaptável[6]. O conhecimento protegido por segredo, uma evidência da magia régia, era instrumento de poder do qual uma ciência aberta poderia colocar em risco.[7] Apuleio registra  em Apologia XXVI que “a magia e uma arte agradável aos deuses imortais, uma das primeiras coisas que se ensina aos príncipes”.[8] Para Byron Schafer “muito do prestígio da magia vinha do acesso exclusivo que ela dava às pessoas a técnicas , materiais, conhecimentos especiais, e provavelmente  era empregada de maneira mais completa pela elite do que pelos outros [...]  Dificilmente ocorreria a quem quer que fosse  que o sistema como um todo pudesse estar baseado em fundamentos inseguros”.[9] Schwaller de Lubicz observa no Egito Antigo ciência, religião, filosofia e arte estavam fundidos em uma grande síntese e única, de modo que não se pode fazer a análise destes aspectos de modo isolado[10].

[1] BUDGE, E. A. Wallis; Livros Bauer. Magia egípcia (edição ilustrada) (coleção de clássicos atemporais) (pp. 5-6). Edição do Kindle

[2] ONCKEN, Guilherme. História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand, p.304

[3] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 210

[4] BUNSON, Margaret. Encyclopedia of Ancient Egypt, New York:Facts on File, 2002, p. 171

[5] RITNER, Robert. The mechanics of ancient magical practice. The Oriental Institute of the University of Chicago: Illinois, 1993, p.14

[6] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 20

[7] QUIGLEY, Carroll. A evolução das civilizações, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p.151

[8] JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.44

[9] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 206

[10] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 45



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