Israel Finkelstein mostra achados arqueológicos e o
relato de Maneton que conta a respeito de povos semitas (hicsos) invadindo o
Egito vindos de Canaã e tendo os egícios posteriormente os expulsado à força de
volta para Canaã. Com a expulsão dos hicsos por volta de 1570 a.c. o império
egípcio se reunifica em torno do Novo Império (1580 – 1085 a.c.)[1]. Segundo
1 Reis 6:1 o Êxodo do Egito ocorreu 480
anos antes de Salomão começar a construir o Templo em Jerusalém (960 a.c.),
portanto, o Êxodo dataria de cerca de 1440 a.c., o que não coincide com a
invasão dos hicsos, logo, tratam-se de eventos distintos. Tampouco é improvável
falar em Ramsés II (1279-1213 a.c.) como o faraó do Êxodo. A identificação de
Ramsés II como o faraó do êxodo decorreu de suposições baseadas na
identificação do topônimo Pi-Ramsés com Ramsés (Êxodo 1,11; 12,37). Ademais a
após expulsão dos hicsos o Egito exerceu um controle bastante rigoroso das
fronteiras temendo novas invasões de modo que seria improvável uma invasão de
povos semitas em grande escala (segundo o texto bíblico de Êxodo 13:37 seiscentas
mil pessoas) sem que houvesse qualquer registro: “a conclusão de que o êxodo
não aconteceu na época nem da maneira descrita na Bíblia parece ser irrefutável
quando examinamos a evidência em sítios específicos onde se diz que os filhos
de Israel acamparam por períodos extensos durante sua migração pelo deserto e
onde é praticamente certo que se encontraria algum indício arqueológico caso
houvesse algum”.[2] A
estela de Merneptá é um dos únicos documentos egípcios que fazem referência ao
nome de Israel e foi encontrada por Flinders Petrie em 1896 nas ruínas do
templo funerário do Faraó Merneptá (1236 a.C. a 1223 a.C.) em Tebas Ocidental,
encontra-se exposto no Museu Egípcio do Cairo. A estela revela que os judeus já
ocupavam o território de Canaã em 1236 a.c.: “Canaã está despojada de toda a
maldade, Ascalão foi conquistada, Gezer foi tomada, Ienoão ficou como não
tivesse existido, Israel está destruído, a sua semente [ou descendência] não
existe mais, a Síria tornou-se uma viúva para o Egito. Todos os que vagavam sem
destino no deserto [os Beduínos] foram submetidos pelo Rei do Alto e Baixo
Egito”, o que torna improvável ser Ramsés II ser o faraó do êxodo pois
diante de uma peregrinação pelo deserto por quarente anos e longo período de
conquistas junto aos povos cananeus não haveria tempo para consolidarem sua
posição nesta data. A estela de Berlim foi descoberta por Ludwig Borchardt em
1913 e revela três grupos de prisioneiros capturados: Ashkelon, Canaã e um
terceiro grupo de difícil identificação por estar danificado. Em uma análise
paleográfica Manfred Görg demosntrou em 2001 que este terceiro grupo é Israel,
desta forma, os três povos são citados na mesma ordem em que aparecem na estela
de Merneptá, o que sugere datação similar, no entanto, a forma como estes nomes
são escritos se assemelha a um período mais antigo na XVIII dinastia (1550-1290
a.c.)[3]. A
estela de Berlin mostra que o estabelecimento do povo judeu em Canaã pode
remontar a um período um pouco anterior ao registrado na estela de Merneptá.
[1] VAINFAS, Ronaldo;
FARIA, Sheila; FERREIRA, Jorge; SANTOS, Georgina. História Volume único, São
Paulo:Saraiva, 2010, p.29; Desplancques, Sophie.
Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM
Pocket. Edição do Kindle, 2021, p.738/1492
[2] FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN,
Neil Asher. A Bíblia desenterrada , Rio de Janeiro: Editora
Vozes. Edição do Kindle, 2018, p.95
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