segunda-feira, 23 de maio de 2022

Egito e o êxodo dos judeus

 

Israel Finkelstein mostra achados arqueológicos e o relato de Maneton que conta a respeito de povos semitas (hicsos) invadindo o Egito vindos de Canaã e tendo os egícios posteriormente os expulsado à força de volta para Canaã. Com a expulsão dos hicsos por volta de 1570 a.c. o império egípcio se reunifica em torno do Novo Império (1580 – 1085 a.c.)[1]. Segundo 1 Reis 6:1  o Êxodo do Egito ocorreu 480 anos antes de Salomão começar a construir o Templo em Jerusalém (960 a.c.), portanto, o Êxodo dataria de cerca de 1440 a.c., o que não coincide com a invasão dos hicsos, logo, tratam-se de eventos distintos. Tampouco é improvável falar em Ramsés II (1279-1213 a.c.) como o faraó do Êxodo. A identificação de Ramsés II como o faraó do êxodo decorreu de suposições baseadas na identificação do topônimo Pi-Ramsés com Ramsés (Êxodo 1,11; 12,37). Ademais a após expulsão dos hicsos o Egito exerceu um controle bastante rigoroso das fronteiras temendo novas invasões de modo que seria improvável uma invasão de povos semitas em grande escala (segundo o texto bíblico de Êxodo 13:37 seiscentas mil pessoas) sem que houvesse qualquer registro: “a conclusão de que o êxodo não aconteceu na época nem da maneira descrita na Bíblia parece ser irrefutável quando examinamos a evidência em sítios específicos onde se diz que os filhos de Israel acamparam por períodos extensos durante sua migração pelo deserto e onde é praticamente certo que se encontraria algum indício arqueológico caso houvesse algum”.[2] A estela de Merneptá é um dos únicos documentos egípcios que fazem referência ao nome de Israel e foi encontrada por Flinders Petrie em 1896 nas ruínas do templo funerário do Faraó Merneptá (1236 a.C. a 1223 a.C.) em Tebas Ocidental, encontra-se exposto no Museu Egípcio do Cairo. A estela revela que os judeus já ocupavam o território de Canaã em 1236 a.c.: “Canaã está despojada de toda a maldade, Ascalão foi conquistada, Gezer foi tomada, Ienoão ficou como não tivesse existido, Israel está destruído, a sua semente [ou descendência] não existe mais, a Síria tornou-se uma viúva para o Egito. Todos os que vagavam sem destino no deserto [os Beduínos] foram submetidos pelo Rei do Alto e Baixo Egito”, o que torna improvável ser Ramsés II ser o faraó do êxodo pois diante de uma peregrinação pelo deserto por quarente anos e longo período de conquistas junto aos povos cananeus não haveria tempo para consolidarem sua posição nesta data. A estela de Berlim foi descoberta por Ludwig Borchardt em 1913 e revela três grupos de prisioneiros capturados: Ashkelon, Canaã e um terceiro grupo de difícil identificação por estar danificado. Em uma análise paleográfica Manfred Görg demosntrou em 2001 que este terceiro grupo é Israel, desta forma, os três povos são citados na mesma ordem em que aparecem na estela de Merneptá, o que sugere datação similar, no entanto, a forma como estes nomes são escritos se assemelha a um período mais antigo na XVIII dinastia (1550-1290 a.c.)[3]. A estela de Berlin mostra que o estabelecimento do povo judeu em Canaã pode remontar a um período um pouco anterior ao registrado na estela de Merneptá.

[1] VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila; FERREIRA, Jorge; SANTOS, Georgina. História Volume único, São Paulo:Saraiva, 2010, p.29; Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.738/1492

[2] FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia desenterrada , Rio de Janeiro: Editora Vozes. Edição do Kindle, 2018, p.95

[3] https://armstronginstitute.org/137-berlin-pedestal-earliest-mention-of-israel



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...