Para
Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do
Brasil: “as instituições sofrem de
artificialismo de origem, nascendo mais por enxerto do que nutridas por solo
natural”[1].
Katia Mattoso (figura) registra o comportamento de escravos negros cristianizados que
assistiam missas em latim da qual pouco entendiam o conteúdo e repetiam a mensagem
do Cristo Ressuscitado “Ressurrectus Cristus dixit” como “reco, reco Cristo
disse”.[2] Para
o sociólogo Roberto Schwarz vivemos o desconforte intelectual de
experimentarmos “ideias fora do lugar”,
a realidade da escravidão nos coloca sujeitos a uma “comédia ideológica”, um verdadeiro “quiproquó das ideias”, na medida em que ao utilizarmos do
ferramental ideológico liberal europeu nos distanciamos da realidade local: “a declaração dos direitos do homem, por
exemplo, transcrita em parte na Constituição brasileira de 1824, não só não
escondia nada, como tornava mais abjeto o instituto da escravidão”.[3] Emília Viotti mostra que o artigo 179 da Constituição de 1824 ao conferir a liberdade e a igualdade como
direitos inalienáveis do homem ignorava sumariamente a escravidão.[4]
[1] FAORO, Raymundo. Os
donos do poder: formação do patronato político brasileiro, v.2, São Paulo:Ed.
Globo, 2000, p.386
[2] VAINFAS, Ronaldo. Perfis brasileiros: Antonio Vieira. São Paulo: Cia das
Letras, 2011, p. 60
[3] SCHWARCZ, Roberto. As
ideias fora do lugar. Cadernos CEBRAP, n.3, 1973
Nenhum comentário:
Postar um comentário