domingo, 3 de abril de 2022

A escravidão e o Império Romano

 

Sêneca, que foi assessor do imperador Nero[1], mostra uma posição tolerante com a escravidão: “A alma reta, boa, grande pode encontrar-se tanto em um cavaleiro romano ou em um liberto como em um escravo. O caminho da virtude a ninguém se acha vedado, está aberto a todos, livres, libertos, escravos, reis, desterrados. Labora em erro quem crê que a escravidão penetra todo o homem: a melhor parte ache-se livre dela: os corpos estão sujeitos e consignados ao amo, mas a alma permanece dona do seu direito próprio, não pode dar-se em escravidão [...] És um escravo ? Mas talvez de alma livre. Por acaso [a escravidão] isso lhe causará dano ? Mostra-me então alguém que não seja um escravo: um da luxúria, outro da avareza, outro da ambição, todos da esperança, todos do temor. Não existe nenhuma escravidão mais vergonhosa do que a voluntária”.[2] Sêneca recomenda o tratamento humano aos escravos: “Lembre-se por favor que o chamado “escravo” é um homem como você, vivendo sob o mesmo sol, respirando, movendo-se e sendo mortal como você. Você pode desprezar a sorte de um escravo quando você pode ter o mesmo destino ? Não desejo envolver-me na discussão do nosso tratamento dos escravos, que me parece demasiadamente severo, sádico e insultante. Meu conselho é simples: trate seus inferiores como desejaria ser tratado por seus superiores. Quando pensar que pode fazer o que quiser com seus escravos, lembre-se que o mesmo pode ser feto por seu patrão”.[3] Por outro lado, Apuleio no Asno de Ouro descreve um relato cruel do sofrimento a que muitos escravos eram submetidos ao trabalhar em um moinho de grãos: “Oh, deuses do ceu, que pobres criaturas subumanas estavam lá, os corpos contundidos, cheios de marcas esbranquiçadas, as coisas com cicatrizes de espancamentos, antes cobertos que vestidos, em farrapos, alguns usando apenas uma tanga para preservar sua dignidade, todos praticamente nus. Alguns tinham sido marcados na testa, outros tiveram o cabelo raspado e outros ainda usavam grilhões. Tinham uma aparência medonha e de fato mal podiam enxergar, pois seus olhos estavam embaçados de sujeira e fumaça na escuridão do cheiro fétido daquele lugar”.[4]



[1] VAINFAS, Ronaldo. História volume único, Rio de Janeiro: Saraiva, 2010, p. 71

[2] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 162

[3] FUNARI, Pedro. Roma vida pública e vida privada, São Paulo: Atual, 1993, p. 64

[4] WOOLF, Greg. Roma: a história de um império,São Paulo: Cultrix, 2017, p.131



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