Zenão de Eleia, chamado por Aristóteles como o criador da dialética[1] (dia – entre, logos – palavra, ou seja, relativo a diálogo), usa o exemplo de uma flecha que a cada momento ocupa o mesmo espaço, ou seja, se encontra em repouso, seu movimento é uma ilusão. Seu método de entender o movimento de uma flecha como um conjunto infinito de parcelas, contudo, constituirá um recurso essencial ao pensamento analítico interligando uma discussão filosófica com conceitos de matemática.[2] Aristóteles ao explicar a lógica de Zenão coloca que esta só faz sentido se supusermos o tempo composto de instantes. Para Zenão o mundo que vivemos não pode ser conhecido, é uma aparência impensável e nos faz viver em uma ilusão.[3] Aristóteles na Física expõe como um dos argumentos de Zenão a impossibilidade do movimento dada a necessidade do móvel alcançar o meio antes que o fim.[4] Ao expor tais paradoxos Zenão busca mostrar que a crença no movimento e nas mudanças leva a absurdos lógicos.[5] Imagine um atleta que deseje correr uma distância de 100 metros. Para chegar no final do percurso, ele primeiro terá que passar no ponto que corresponde a metade do percurso, depois no próximo ponto que corresponde a ¼ do final, depois a 1/8 do final, depois 1/16 do final, tendendo assim a ser um número infinito de pontos antes que o corredor chegue ao final. Como o infinito é uma abstração matemática que significa algo que não tem limite, o atleta jamais conseguiria chegar ao final do percurso (100 m), pois ele teria que percorrer infinitos pontos para chegar a um final. Se ele chegasse ao fim depois de percorrer o infinito, significaria que este infinito tem um fim; como isto não é possível, gera assim o paradoxo. No paradoxo de Zenão o veloz Aquiles disputa corrida com uma tartaruga. Ele inicia dando uma vantagem de cem metros para a tartaruga. Quando Aquiles alcança a posição inicial da tartaruga, ela terá caminhado uma pequena distância. Depois num segundo momento quando Aquiles novamente alcança essa segunda marca da tartaruga, a mesma terá caminhado mais um pouco, por menor que seja a distância. Repetindo esse processo ao infinito, supondo que o espaço pode ser subdvidido por uma série ilimitada de pontos, chegamos a conclusão que Aquiles jamais atingirá a tartaruga e menos ainda ultrapassá-la. [6] Se nossos sentidos mostram a existência de movimento é porque eles não mostram as coisas como são, as quais somente poderão ser apreendidas pelo uso da razão, de modo que devemos abandonar os sentidos como guias para a verdade.[7] O filósofo cínico Diógenes de Sinope aborrecido com os argumentos de Zenão sobre a impossibilidade do movimento, contestou invocando o senso comum: “O movimento demonstra-se andando”.[8] Embora o matemático Autolicos de Pitane por volta de 300 a.c. tenha definido o movimento uniforme como aquele em que se percorre distâncias iguais por tempos iguais o conceito de velocidade ainda permanecia como um conceito vago e não quantificado.[9]
[1] MONDOLFO, Rodolfo. O
pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.86
[2] WILLIAMS, Bernard. Filosofia, In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia,
Brasília: UNB, 1998, p. 251; MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre
Jou, 1964, p.90
[3] CHAUÍ, Marilena.
Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 105
[4] MONDOLFO, Rodolfo. O
pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.88
[5] HARE, R. Platão, São
Paulo: Loyola, 1996, p. 24
[6] MASCHIO, E. Platão: a
verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.49
[7] LINDBERG, David C. The
Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.34
[8] MASCHIO, E. Platão: a
verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.50
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