quarta-feira, 9 de março de 2022

O mapa mundi segundo os gregos

 

Aristóteles em “Segundos Analíticos”  por sua vez defendia a esfericidade da terra embora acreditasse que a terra fosse o centro do universo: “Outro testemunho disso [a figura esférica] é o dos fenômenos que captamos com nossos sentidos. Se não fosse assim, os eclipses da lua não mostrariam segmentos como o vemos. Por ocasião de suas fases mensais, assume todas as modalidades de secções (é seccionada pela reta, a convexa e a côncava); entretanto, durante os eclipses seu contorno é sempre uma linha curva. Daí, sendo a causa dos eclipses a interposição da Terra, é de se presumir que sua forma seja devida à forma da superfície terrestre, que é esférica”.[1] Para o grego Anaximandro, que vivia em Mileto, famoso centro da cultura jônica, o mundo é uma esfera em cujo centro se situa a Terra[2]. No modelo de Anaximandro a Terra era uma espécie de disco plano que flutuava no ar como uma rolha ao qual Pitágoras viria substituir por uma esfera concêntrica a outras esferas, sendo cada planeta, a lua e o sol dispostos em uma esfera cada um, o que totalizaria sete esferas em analogia à escala musical referindo-se à “harmonia das esferas”[3]. Arquimedes construiu dois planetários com partes móveis que foram levados à Roma após o saque de Siracusa e determinou que a superfícies de qualquer fluido em repouso é igual à superfície de uma esfera cujo centro é o mesmo que o da Terra, ou seja, a superfície dos oceanos não é plana.[4] Eratóstenes estimou com boa aproximação o raio terrestre. Para Aristóteles em seu livro Sobre os céus, a terra é esférica, pois tendo em vista sua tendência de se colocar no centro do universo ela deve se dispor de forma simétrica em torno deste ponto, tendo como estimativa para sua circunferência em torno de 45 milhas, cerca de 1,8 vezes o valor moderno. David Lindberg mostra que esta tese aristotélica é a que prevaleceu por toda a idade média, sendo um mito que os medievais acreditassem seriamente em sua planicidade. [5] A Geografia de Ptolomeu também descreve uma terra esférica assim como uma esfera armilar. A obra foi redescoberta pelo monge bizantino Maximus Planudes em 1295 e foi difundida pela Europa no século XIV.[6] Heródoto por volta de 430 a.c. zomba da confecção de mapas muito distantes dos mapas mais confiáveis de que dispunha: “me faz rir quando vejo algumas pessoas desenhando mapas do mundo sem qualquer razão a os guiar, eles representam um oceano como se fosse um rio cercado pro terra, e a extensão de terra como se fosse um círculo, como se fosse desenhada por um compasso e com a Europa e Asia representadas com o mesmo tamanho”. Nos mapas da época Africa era contínua a Asia, porém Herédoto desta que os dois continentes estavm unidos por um único ponto em comum na altura do Egito.[7]

[1] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 307; BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.98

[2] JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.183

[3] MOSLEY, Michael.Uma história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 21

[4] STRATHERN, Paul. Arquimedes e a alavanca em 90 minutos, Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 32, 50

[5] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.55

[6] AIROLA, Jorge Magasich; BEER, Jean Marc. América mágica, Rio de Janeiro: Paz e terra, 2000, p. 50

[7] JAMES, Peter; THORPE, Nick. Ancient inventions, London: Randon House, 1995, p.61



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