quarta-feira, 16 de março de 2022

As dissecações de cadáveres no período medieval

 

A escola de medicina da universidade de Bolonha tornou-se famosa com Hugo de Lucca (1252) e seu discípulo Teodorico (1206-1298). Mondino (1276-1328) seguiu o caminho de Saliceto na área de anatomia tendo publicado em 1316 um manual de Anatonia que tornou-se padrão para dissecação nos dois século seguintes. Tais dissecações eram realizadas em cadáveres de criminosos em sua grande maioria muito embora muitos ainda se limitassem a seguir os textos de autoridades como Galeno.[1] Na Universidade de Bolonha Guilhermo Saliceto no século XIII difunde o uso do bisturi. O cautério fora desenvolvido pelos árabes, que por questões religiosas evitavam instrumentos cortantes.[2] David Lindberg mostra que a tradução de dissecação de cadáveres se difunde apenas no final do século XIII.[3] A Igreja no Concílio de Tours em 1131 proibira os clérigos de estudarem ou praticar medicina, diante do surgimento de universidades em medicina. No Concílio de Latrão em 1215 os clérigos foram proibidos de praticar qualquer tipo de cirurgia o que levou a separação da medicina e da cirurgia praticada pelos barbeiros, no entanto, não houve qualquer restrição formal às dissecações de cadáveres. Com as universidades os cirurgiões barbeiros foram relegados a categoria de meros artesãos. A Confraria de São Cosme na França fundada em 1258 regulava o trabalho dos cirurgiões barbeiros franceses entre os quais Jean Pitard, cirurgião dos reis da França. Em 1271 a Universidade de Paris invocou um antigo estatuto tornando ilegal aquele que praticasse a medicina sem uma licença obtida, junto à Igreja, o que aconteceu com aqueles que concluíssem o curso na Universidade. Em 1322 Jacqueline Almania, numa época em que mulheres não eram admitidas nos cursos de medicina, foi condenada por exercício ilegal da medicina.[4] No século XVI a anatomia explodiu como campo de pesquisa e não há evidências de que houvesse qualquer restrição religiosa severa quanto a dissecação de cadáveres[5]. Ambroise Paré (1510-1590) destacou-se como cirurgião na Renascença.[6]

[1] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.93; LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.346

[2] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 60

[3] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.347

[4] MAGGS, Sam. Wonder Women: 25 mulheres inovadoras, inventoras e pioneiras que fizeram a diferença, São Paulo: Primavera, 2017, p.54

[5] PARK, Catherine. Mito 5: que a igreja medieval proibia a dissecação humana. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 76

[6] FABIANI, Jean Noel; BERCOVICI, Philippe. A incrível história da medicina,Porto Aegre: LP&M, 2021, p. 33, 240



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