quinta-feira, 3 de março de 2022

A integração da filosofia natural e da teologia em Tomás de Aquino

 

Para René Taton a compilação do conhecimento químico e de alquimia por escritores como Vicente de Beauvais, Alberto Magno, Arnaldo de Villeneuve e Roger Bacon e a expansão da indústria têxtil e das trocas comerciais contribuiram para o desenvolvimento de novas técnicas.[1] Rodney Stark observa que a alquimia e astrologia presentes na China e no Islã somente conseguiram evouir para as modernas química e astronomia no continente europeu por conta do cristianismo e sua capacidade de compreender a natureza de modo sistemático diante sua ênfase na racionalidade, crença de uma natureza movida por leis e confiança no progresso da humanidade[2]. Para Friedrich Klemm a integração da doutrina aristotélica ao cristianismo empreendida por Tomás de Aquino, o Doctor Angelicus e Alberto Magno o Doctor Universalis reuniu num único arcabouço intelectual o conhecimento natural e o domínio do sagrado mostrando que não há contradições entre a verdade revelada e a verdade científica, o que se constituiria as sementes para o surgimento da revolução científica dos séculos XVI e XVII.[3] Mestre em teologia pela Universidade de Paris, Alberto Magno e professor de Tomás de Aquino é considerado o fundador do aristotelismo cristão: “Nosso propósito é satisfazer tanto quanto pudermos aqueles irmãos de nossa ordem que há muitos anos nos suplicam que escrevêssemos para eles um livro de física no qual eles pudessem encontrar uma exposição completa das ciências naturais e do qual eles também podem ser capazes de compreender corretamente os livros de Aristóteles”.[4] Embora Alberto Magno reconheça Deus como causa última de todas as coisas, el argumenta que Deus normalmente opera sua obra segundo causas naturais que cabe ao filósofo natural identificar. Para Tomás de Aquino a filosofia natural e a teologia constituem caminhos complementares e não contraditórios para a verdade, de modo, que qualquer conflito é muito mais aparente do que real, fruto seja de uma forma errada de filosofia natural ou de teologia equivocada.[5] Para Garcia Morente: “no sistema de Santo Tomás fraternizam de maneira quase miraculosa a profundidade com a singeleza; e o acordo das verdades racionais com as verdades da fé se produz de modo tão natural e evidente que se diria o encaixe e união das duas metades do mesmo todo”.[6] Gregório de Nissa no século IV já destaca que a natureza humana material e divina espiritual de Jesus mostra que a natureza do mundo material deve ser compreendida e exaltada pelo homem.

[1] TATON, René. A ciência moderna: o Renascimento, tomo II, v.I, São Paulo:Difusão, 1960, p. 135

[2] EFRON, Noah. Mito 9: que o cristianismo deu à luz a ciência moderna. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 126

[3] KLEMM, Friedrich, A history of western technology, London:Ruskin House, 1959, p. 56

[4] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.237

[5] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.242

[6] MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. São Paulo:Mestre Jou, 1970, p.129



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