segunda-feira, 7 de março de 2022

A Igreja medieval contra a rotação da Terra

 

David Lindberg mostra que para os filósofos medievais, seguindo as teses geocêntricas de Aristóteles, a Terra era estacionária, ou seja, ela não girava em torno de seu eixo. Será apenas com Jean Buridan (1358) e Nicole Oresme (1382) que as implicações de uma Terra que se move em torno de seu eixo seriam discutidas, embora ainda dentro de uma concepção geocêntrica. Para Buridan o fato de uma flecha lançada verticalmente retornar sempre para o eu ponto de partida mostra eu a Terra é estacionária. Para Nicole Oresme esse fato se dá porque flecha e Terra ambos mantém o mesmo movimento na horizontal durante toda a trajetória da flecha, da mesma forma que dentro de um navio, todos os elementos de seu interior acompanham o movimento horizontal do navio, um argumento de movimento relativo que será retornado por Galileu no século XVII. Para Nicole Oresme, portanto, tais experiências não são conclusivas sobre haver ou não um movimento de rotação da Terra. Sua defesa de uma Terra que tem movimento de rotação se deve a economia de movimentos que isso produziria: ao invés de todos os astros girando, bastaria que a Terra girasse para poder explicar o dia e a noite de modo muito mais simples. Apesar disso, Oresme reconhecia que uma Terra estacionário era mais coerente com o texto bíblico segundo o Salmo 93:1: “O Senhor reina; está vestido de majestade; o Senhor está vestido, cingiu-se de fortaleza; o mundo também está firmado, e não pode ser abalado”[1]. David Lindberg não tem certeza das reais convicções de Oresme ou se ele adotou a posição de uma Terra imóvel simplesmente para evitar problemas com a Igreja.



[1] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.282



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