domingo, 13 de março de 2022

A Escola de medicina de Salerno

 

A Escola de Salerno, no sul da Itália, desenvolveu-se em torno de um mosteiro beneditino, por volta do século X embora haja diferentes lendas sobre sua origem[1]. A escola de medicina de Salerno no sul da Itália transformou-se em um centro de transmissão do saber médico muçulmano para o ocidente[2]. Os membros da escola de medicina de Salerno[3] se transferiram para a Universidade de Nápoles.[4] Charles Haskins, contudo, observa que a escola de Salerno, não influenciou a evolução das universidades europeias.[5] Textos médicos gregos e árabes em Salerno foram traduzidos em especial com o monge beneditino do monastério de Monte Cassino no sudeste da Itália, Constantino o Africano (1065-1085) com as traduções de Da arte medica e Do método de cura ambos de Galeno, tornando-se um importante centro de conhecimentos em medicina.[6] Com as cruzadas intensificou-se o contato com o Levante e com isto a integração com a medicina árabe, por exemplo trazida por Constantino o Africano.[7] Sua obra mais importante é a tradução para o latim da obra Pantegni de Ali ibn al Abbas, mas que por questões políticas tratou de omitir o nome do autor árabe pois com os ataques dos sarracenos não seria oportuno publica uma obra de um sábio árabe.[8] A escola de Salerno teve também influência inconteste de médicos judeus.[9] Um plano de estudos conhecido como Articella reunia obras de Hipócrates, Teófilo, Filareto e Galeno[10]. Gerard de Cremona (1114-1187) irá traduzir nove tratados de Galeno, o Almansor de Rhazes e o grande Canon da Medicina de Avicena. O século XII é o auge da literatura médica de Salerno com as traduções da obra de Hipócrates e Galeno e a publicação do Antidotarium / Antidotaiire Nicolas, uma coleção de fórmulas e receitas médicas formada através de gerações de médicos como Aflácio, Mateus Plateário e Nicolau Le Prévost  foi mantida em uso até o século XVII. Ao controlar as interações do homem com o meio natural os médicos medievais tornam-se especialistas da natureza sendo denominados de physici.[11] O De símplice medicina, elaborado em Salerno entre 1130 e 1160 por Mateus Platearius era um compêndio de plantas medicinais que no século XV serviu de códice aos boticários parisienses. A Escola de Salerno, contudo, não chegou a se constituir propriamente uma universidade[12]. Daniel Rops aponta que Salerno tornou-se universidade em 1220. [13] Obras como Articela escrita em Salerno foram amplamente utilizadas pelas universidades medievais.



[1] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.240

[2] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.117

[3] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.240

[4] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 58

[5] HASKINS, Charles. A ascenção das universidades, São Paulo: Danúbio, 2015, p.273/1743

[6] LLOYD, G. Ciência e matemática In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 330; LINDBERG, David C.. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle.2007, p.329

[7] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.79

[8] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.80

[9] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a idade Média, tomo I, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 98

[10] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 69

[11] POUCHELLE, Marie-Christine. Medicina. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 175

[12] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.225, 226

[13] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 351



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