quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Pirâmides egípcias e os conhecimentos em astronomia

 

As pirâmides de Miquerinos (em egípcio Menkaure), Romboidal (também conhecida como pirâmide Vergada, Falsa, Romba, construída por Snefru / Seneferu)[1] e Meidum tem desvios inferiores a um grau em relação ao Norte. A pirâmide de Gizé (em egípcio Khafre), contudo, não está alinhada com o Norte com tanto rigor.[2] A pirâmide de Quéops (em egício Khufu) comete um erro de apenas três minutos e seis segundos em relação ao verdadeiro norte[3]. Considerando que os egípcios ignoravam a bússola, tal orientação somente poderia ter sido conseguida com observações astronômicas[4]. Para tanto o tcheco Zaba sugere que os egípcios tenham usado um instrumento primitivo em forma de L[5]. As medidas para se saber as horas noturnas pela determinação da altura de uma estrela acima do horizonte eram feitas com o uso do merkhet, uma estreita barra horizontal em L tendo em uma de suas extremidades um pequeno bloco segurando um fio de prumo, conforme indicações em gravações nas paredes dos templos de Dendera e Edfu. O merjet / merkhet ou “observador das horas” era associado a uma vara de palmeira que consistia em uma haste com uma fenda em uma das extremidades e dois fios a prumo suspensos que se situavam no plano do meridiano do observador. Borchardt em 1899 identificou tal instrumento com um objeto de osso datado da época saíta hoje no Museu de Berlim.[6] Tutankhamon restaurou o instrumento construído pelo seu sogro Amenófis IV (1405-1380 a.c).[7] Estes instrumentos eram capazes de realizar pela observação visual a determinação da estrela polar, determinar a passagem de duas estrelas fixas por um plano vertical[8]. Um método para determinar o norte verdadeiro com o uso desta vara em V, também chamada de bay, consistia em visualizar uma estrela ao norte dividindo em dois o ângulo formado por sua posição no nascente, a posição do observador e a posição da estrela no poente[9]. No entanto, segundo Alvarez Lopes nenhum destes métodos permitiria obter a determinação do meridiano com erro da ordem de 5 minutos de arco como observados em Queops e Quefren.[10] Ainda que fosse usado o astrolábio de Hiparco as medidas para determinação do meridiano teriam um erro de 30 graus. Apesar desse conhecimento, a astronomia egípcia não era muito avançada quando comparada à da Babilônia.[11] David Lindberg mostra que a astronomia egípcia desenvolveu-se a partir dos conhecimentos obtidos da Babilônia.[12] Três tabelas planetárias egípcias parcialmente preservadas são o papiro P8279 em Berlin, as chamadas “Stobart Tables” e o papiro Teptunis II 274, estes dois últimos publicados por Neubebauer em “Egyptian Planetary Texts” de 1942. O neoplatônico Proclus em seu comentário do Timeu de Platão no século IV observa que as pirâmides serviam como observatório astronômico[13], sendo usado por meio das sombras determinar o comprimento do ano.[14]

[1] TOTH, Max; NIELSEN, Greg. A força das pirâmides, São Paulo:Record, 1976, p.55

[2] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 52

[3] ULRICH, Paul. Os grades enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.186

[4] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 51

[5] STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 241

[6] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.225

[7] MOURÃO, Rogério. Dicionário de astronomia e aeronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.524

[8] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.94

[9] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.226

[10] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.95

[11] GORMAN, Peter. Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 72; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 189

[12] Lindberg, David C.. The Beginnings of Western Science . University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.15

[13] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 91

[14] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 108



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