Murillo Cruz destaca o papel pioneiro de Bartolomeu de
Gusmão em buscar a solução para o voo através de um balão de ar quente ao invés
de copiar o movimento dos pássaros, que até então vinha sendo o paradigma
adotado como o ornitóptero de Leonardo da Vinci[1]. Bartolomeu
de Gusmão irá solicitar nova patente em 1710 para um engenho sobre “vários
modos de esgotar sem gente as naus que fazem água”[2], para
retirada de água dos porões dos navios, possivelmente baseado no parafuso de
Arquimedes. Perseguido pela Inquisição por bruxaria[3] (suspeita
de conduta judaizante e por acusações de ter sido amante de uma freira no
convento de Santanna em Portugal), Bartolomeu de Gusmão, envolto ao escândalo
em torno das acusações contra ele[4], falece
em 1724. Em 1783 os irmãos Montgolfier entrariam para a história com o primeiro
voo tripulado em um balão de ar quente.[5] Domingos Vandelli em Coimbra em 1784, professor de José Bonifácio, construiu
balões de hidrogênio. Segundo Francisco Freire de Carvalho[6] em texto
publicado em Lisboa de 1843 ao reproduzir o alvará concedido pelo rei D. João V
ao invento do aeróstato proposto por Bartolomeu de Gusmão conclui: “Aventurámo-nos
a dizer (esperando todavia que nos levem isto em conta de uma simples, porém
grande probabilidade), que o inventor das Machinas-aerostaticas foi o
Porluguez-Brasileiro P. Bartholomeu Lourenço de Gusmão, irmão do bem conhecido
Alexandre de Gusmão, que (ao distinto se mostrou como Politico no governo de el
Rei D. João V., e ambos eles naturais da Vila de Santos na Província de S.
Paulo no Império do Brasil)”: O livro também inclui texto da Ephemeride Historical
de Leitão Ferreira que relata que Bartolomeu de Gusmão em 1709 fizeram duas
apresentações de seu invento junto à Corte portuguesa a primeira feita no pátio
da Casa da Índia, e noutra parte dentro da Salla das Audiências. Uma carta de 1818
de Jose Bonifácio atesta a veracidade da informação: “Folgo muito, que V...
trabalhe em revindicar para o P. Bartholomeu Lourenço a invenção dos
Aerostatos; o que me he muito agradarei, por ter sido este grande homem, assim
como seu irmão Alexandre de Gusmão, da minha pátria, e meu parente ainda. É
verdade, que na minha família e no meu país o P. Bartholomeu Lourenço foi
sempre conhecido com o título de Voador, e que toda esta familia foi dotada de
tantos talentos”. Francisco Freire de Carvalho mostra documento de
Bartolomeu de Gusmão que mostra que a estampa Passarola que mostra uma máquina
movida por força magnética e elétrica jamais poderia funcionar e que foi mero
artifício para proteger os reais meios usados para elevação do aeróstato, meios
os quais ele mantinha em segredo. Um soneto divulgado á época mostra que os
meios de elevação eram mantidos em segredo e causaram sensação entre os
presentes a ponto de esquecer as agruras da fome que assolava a população: “Veio
na frota um doente Brasileiro / em traje clerical, sotana , e cróa / Fez crer,
que pelo ar navega , e vôa / Num barco sem piloto e sem remeiro / Vai-se ao
Marquês de Fontes mui ligeiro / Declara-lhe o segredo, este o apregoa / Sai a
Consulta, pasma-se Lisboa / E em tanto esquece a fome no Terreiro / Bem mereço
este doente eterno assento / Na etérea região, eu já lhe aprovo / A diabrura do
sutil invento / Pois um milagre fez, que é mais que novo / em manter tantas bocas
só de vento / Fazendo um Camaleão de tanto Povo”.
[1] Bartolomeu de Gusmão -
Parte 1 - Murillo Cruz, https://www.youtube.com/watch?v=l3ZWNttTrcA
[2] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 269
[3] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
273
[4] CORTESÃO, Jaime.
Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.249
[5] RODRIGUES.op. cit.p. 387-433
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