sábado, 19 de fevereiro de 2022

O pioneirismo de Bartolomeu de Gusmão

 

Murillo Cruz destaca o papel pioneiro de Bartolomeu de Gusmão em buscar a solução para o voo através de um balão de ar quente ao invés de copiar o movimento dos pássaros, que até então vinha sendo o paradigma adotado como o ornitóptero de Leonardo da Vinci[1]. Bartolomeu de Gusmão irá solicitar nova patente em 1710 para um engenho sobre “vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água”[2], para retirada de água dos porões dos navios, possivelmente baseado no parafuso de Arquimedes. Perseguido pela Inquisição por bruxaria[3] (suspeita de conduta judaizante e por acusações de ter sido amante de uma freira no convento de Santanna em Portugal), Bartolomeu de Gusmão, envolto ao escândalo em torno das acusações contra ele[4], falece em 1724. Em 1783 os irmãos Montgolfier entrariam para a história com o primeiro voo tripulado em um balão de ar quente.[5] Domingos Vandelli em Coimbra em 1784, professor de José Bonifácio, construiu balões de hidrogênio. Segundo Francisco Freire de Carvalho[6] em texto publicado em Lisboa de 1843 ao reproduzir o alvará concedido pelo rei D. João V ao invento do aeróstato proposto por Bartolomeu de Gusmão conclui: “Aventurámo-nos a dizer (esperando todavia que nos levem isto em conta de uma simples, porém grande probabilidade), que o inventor das Machinas-aerostaticas foi o Porluguez-Brasileiro P. Bartholomeu Lourenço de Gusmão, irmão do bem conhecido Alexandre de Gusmão, que (ao distinto se mostrou como Politico no governo de el Rei D. João V., e ambos eles naturais da Vila de Santos na Província de S. Paulo no Império do Brasil)”: O livro também inclui texto da Ephemeride Historical de Leitão Ferreira que relata que Bartolomeu de Gusmão em 1709 fizeram duas apresentações de seu invento junto à Corte portuguesa a primeira feita no pátio da Casa da Índia, e noutra parte dentro da Salla das Audiências. Uma carta de 1818 de Jose Bonifácio atesta a veracidade da informação: “Folgo muito, que V... trabalhe em revindicar para o P. Bartholomeu Lourenço a invenção dos Aerostatos; o que me he muito agradarei, por ter sido este grande homem, assim como seu irmão Alexandre de Gusmão, da minha pátria, e meu parente ainda. É verdade, que na minha família e no meu país o P. Bartholomeu Lourenço foi sempre conhecido com o título de Voador, e que toda esta familia foi dotada de tantos talentos”. Francisco Freire de Carvalho mostra documento de Bartolomeu de Gusmão que mostra que a estampa Passarola que mostra uma máquina movida por força magnética e elétrica jamais poderia funcionar e que foi mero artifício para proteger os reais meios usados para elevação do aeróstato, meios os quais ele mantinha em segredo. Um soneto divulgado á época mostra que os meios de elevação eram mantidos em segredo e causaram sensação entre os presentes a ponto de esquecer as agruras da fome que assolava a população: “Veio na frota um doente Brasileiro / em traje clerical, sotana , e cróa / Fez crer, que pelo ar navega , e vôa / Num barco sem piloto e sem remeiro / Vai-se ao Marquês de Fontes mui ligeiro / Declara-lhe o segredo, este o apregoa / Sai a Consulta, pasma-se Lisboa / E em tanto esquece a fome no Terreiro / Bem mereço este doente eterno assento / Na etérea região, eu já lhe aprovo / A diabrura do sutil invento / Pois um milagre fez, que é mais que novo / em manter tantas bocas só de vento / Fazendo um Camaleão de tanto Povo”.

[1] Bartolomeu de Gusmão - Parte 1 - Murillo Cruz, https://www.youtube.com/watch?v=l3ZWNttTrcA

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 269

[3] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 273

[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.249

[5] RODRIGUES.op. cit.p. 387-433

[6] https://purl.pt/service/pdf?cota=sa-6022-a



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