Alguns eixos do renascimento cultural do
século XII incluem i) os humanistas da escola de Chartres como Constantino
Africano, Adelardo de Bath, Bernardo de Chartres (1124-1130) entre outros, ii)
os monges Bernardo de Claraval (1091-1153) e Hugo de São Vítor (1096-1141) que
renovaram os mosteiros cristãos.[1] Para Christopher Dawson: “qualquer estudo sobre as origens da cultura
medieval deve inevitavelmente conceder um papel central ao estudo do
monasticismo ocidental, já que o mosteiro constitui a mais típica instituição
cultural de todo o período que se estende do declínio da civilização clássica
ao aparecimento das universidades europeias no século XII, compreendendo sete
séculos”.[2] Christopher Dawnson mostra como os mosteiros a partir do século VII, como os São
Gall na Suíça (750), Kremsmunster na Áustria (777) ou Nova Corvey na Saxônia
(822) entre outros se mostram como colônias de um novo tipo de cultura medieval.
Não se trata de comunidades religiosas que seguem uma regra monástica, mas um
complexo que reunia igrejas, armazéns, escolas, oficinas, asilos[3].
A catedral de Chartres foi construída no mesmo local
antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria, um
presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de
Bizâncio no século IX.[4] O bispo Fulberto que
lecionou na escola episcopal de Chartres entre 1006 e 1028 foi discípulo de
Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, e tornou Chartres um grande centro de
aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde
lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de
Pointiers, Yves / Ivo de Chartres mestre em direito canônico, Thierry de
Chartres e o bispo João de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres mostrou
que o trivium (gramática, dialética e retórica) e quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música) eram apenas um meio e que o fim era “formar
almas na verdade e na sabedoria”. Christopher Dawson atribui a escola catedral
de Chartres o status de protouniversidade sendo que ao tempo de Bernardo e
Thierry de Chartres e seu discípulo
Guilherme de Conches rivalizava com Paris como centro de filosofia.[5] Nos tratados educacionais escritos por Thierry e Guilherme de Conches, o
Heptateuchon e o Dragmaticon estão descritos em detalhes os métodos
educacionais usados em Chartres. O concílio de Latrão III no canon 18 decidiu:
“ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um
rendimento conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos
clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres”. Thierry de Chartres (1100-1150)
era chanceler da escola e defendia a tese de que os corpos celestes não eram
divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas pelo contrário, feitos da
mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à mesma ordem. Segundo Thomas
Goldstein: “Thierry provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros
fundadores da ciência do Ocidente”.[6] O Concílio de Latrão (1123) obrigou a todas as dioceses a abrirem uma
escola episcopal. Outras escolas episcopais que se destacaram foram a de
Orleans em que lecionava Santo Aignan, a de Avranches com Anselmo de Bec (1033-1109)
e a de Paris na França onde se formaram vários bispos, Canterbury e Durham na
Inglaterra, Toledo no Espanha, Bolonha, Salerno e Ravena na Itália.[7] Christopher Dawson mostra
que as escolas catedrais do norte da França e Lorena como as de Reims, Chartres,
Laon, Tournai e Liège sucederam as antigas escolas de mosteiros como os de Bec sob
Santo Anselmo e Monte Cassino no século XI.[8]
[1]JANOTTI,
Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.77
[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 71
[3] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 92
[4] MURPHY, Tim Wallace. O
código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166
[5] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p.
227
[6] AQUINO,
Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166
[7] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante,
2012, p. 343
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